29.6.20

EXPERIÊNCIA ERRÁTICA DA/NA CIDADE

MATERIALIZAÇÃO DA ERRÂNCIA ENTRE CORPO E A CIDADE

TRABALHO FINAL



Um corpo. Um gesto. Um espaço. Um ritmo. Uma deambulação. Uma deriva. Uma errância que transmite uma materialização do imaterial (ato de vaguear) contaminando o espaço (resultado de aplicação-desenho).

O trabalho realizado propôs uma autorreflexão e análise entre o corpo (sujeito que habita o espaço) e a cidade/lugar (área que é habitada)Esta forma de habitar um lugar exerceu-se perante um errante (autor- ‘aquele que’) que vagueia sem destino determinado na cidade (não firme/vacilante – ato de errar).

Problematizou-se, com isto, o processo de domesticação da relação entre o corpo e a cidade perante o filtro de ação, o ato de caminhar que, antes de executado, absorve a sua envolvente, definindo e afetando a sua própria deriva (o passo e o andar como técnica do corpo – performance com e como errante urbana).


Simbologias:


- memória da passagem (carimbo que é exercido nas folhas, coladas nos sapatos, em junção com o solo);
- a deriva aplicada à geografia (modo como o ato não declarado de ‘carimbar’ a folha advém da deambulação pelo território – rota geográfica);
- modo como a documentação é proporcionada por uma experiência tácita (que não está declarada, porém subentendida).


No decorrer desta deriva foram abordados vários meios de documentação:

- presença de uma câmara GoPro posicionada no capacete individual, que ativa a experiência (autor);
- elaboração de pequenos vídeos e fotografias por parte de um segundo sujeito que relata, metaforicamente, um olhar equivalente ao de um sujeito exterior à intervenção (sujeito nulo ao acontecimento – ‘véu da ignorância’).


O conjunto de imagens que se segue, sintetiza tanto o resultado fotográfico (olhar exterior) como os meios realizados e utilizados no decorrer do processo performativo (sequência que segue o início da performance em direção ao fim):

CLICAR NA FOTO PARA ASSISTIR A VÍDEO DA PERFORMANCE

O papel exerce, nesta performance, um valor de elevada importância. Este opera pela transposição e deslocamento de uma realidade aplicativa distinta (erro desejado). Através deste, foi possível criar um modo de interação que materializasse, ao olhar humano, uma ação que é intangível e momentânea, isto é, a ação de caminhar/deambular. Por via de diversos papeis (branco/opaco -impressão; translucido - vegetal esquiço; branco/opaco extensível - ceda; opaco impresso -mapa) foi possível descontextualizar o seu modo familiar de utilização e convertê-lo em meios de ‘auto-carimbo’ e ‘auto-desenho’. Um desenho que foi exercido por via do corpo, do gesto e, posteriormente, do seu impacto com o terreno. 

Através das imagens que se seguem, é curioso destacar que o resultado de desenho absorve, não só esse impacto (através de furos, vincos e rasgões), como também, as características do solo (através da ‘auto-colagem’ e ‘auto-impressão’ de gravilha, por exemplo) – ADN da deambulação:







Nas imagens anteriores, é visível o poder contaminador do espaço de deambulação em relação ao papel. Nele, são vigentes rastos de ADN do solo assim como fissuras e rasgões que se assemelham, por exemplo, à geografia cartografada de uma cidade.
Em suma, em todo o decorrer da ação, o corpo torna-se o eixo fulcral e essencial no sentido da peça. Através do corpo e do seu gesto contínuo (deambular sobre o solo), o tempo é representado no desenho (objetivo - a temporalidade do corpo no desenho), permanecendo desta forma, uma memória e uma história que se exerce por via do contacto não diretamente declarado.