EXPERIÊNCIA ERRÁTICA DA/NA CIDADE
MATERIALIZAÇÃO DA ERRÂNCIA ENTRE CORPO E A CIDADE
TRABALHO FINAL
Um corpo. Um gesto. Um espaço. Um ritmo. Uma deambulação.
Uma deriva. Uma errância que transmite uma materialização do imaterial (ato de
vaguear) contaminando o espaço (resultado de aplicação-desenho).
O trabalho realizado propôs uma autorreflexão e análise
entre o corpo (sujeito que habita o espaço) e a cidade/lugar (área que é
habitada). Esta forma de habitar um lugar exerceu-se perante um errante
(autor- ‘aquele que’) que vagueia sem destino determinado na cidade (não
firme/vacilante – ato de errar).
Problematizou-se, com isto, o processo de domesticação da
relação entre o corpo e a cidade perante o filtro de ação, o ato de caminhar
que, antes de executado, absorve a sua envolvente, definindo e afetando a sua
própria deriva (o passo e o andar como técnica do corpo – performance com e
como errante urbana).
Simbologias:
- memória da passagem
(carimbo que é exercido nas folhas, coladas nos sapatos, em junção com o solo);
- a deriva aplicada à geografia (modo como o ato não declarado de
‘carimbar’ a folha advém da deambulação pelo território – rota geográfica);
- modo como a documentação é proporcionada por uma experiência tácita (que
não está declarada, porém subentendida).
No decorrer desta deriva foram abordados vários meios de
documentação:
- presença de uma câmara GoPro posicionada no
capacete individual, que ativa a experiência (autor);
- elaboração de
pequenos vídeos e fotografias por parte de um segundo sujeito que relata,
metaforicamente, um olhar equivalente ao de um sujeito exterior à intervenção
(sujeito nulo ao acontecimento – ‘véu da ignorância’).
O conjunto de imagens
que se segue, sintetiza tanto o resultado fotográfico (olhar exterior) como os
meios realizados e utilizados no decorrer do processo performativo (sequência
que segue o início da performance em direção ao fim):
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CLICAR NA FOTO PARA ASSISTIR A VÍDEO DA PERFORMANCE |
O
papel exerce, nesta performance, um valor de elevada importância. Este opera
pela transposição e deslocamento de uma realidade aplicativa distinta (erro
desejado). Através deste, foi possível criar um modo de interação que
materializasse, ao olhar humano, uma ação que é intangível e momentânea, isto
é, a ação de caminhar/deambular. Por via de diversos papeis (branco/opaco -impressão;
translucido - vegetal esquiço; branco/opaco extensível - ceda;
opaco impresso -mapa) foi possível descontextualizar o seu modo familiar
de utilização e convertê-lo em meios de ‘auto-carimbo’ e ‘auto-desenho’. Um
desenho que foi exercido por via do corpo, do gesto e, posteriormente, do seu
impacto com o terreno.
Através
das imagens que se seguem, é curioso destacar que o resultado de desenho
absorve, não só esse impacto (através de furos, vincos e rasgões), como também,
as características do solo (através da ‘auto-colagem’ e ‘auto-impressão’ de
gravilha, por exemplo) – ADN da deambulação:
Nas
imagens anteriores, é visível o poder contaminador do espaço de deambulação em
relação ao papel. Nele, são vigentes rastos de ADN do solo assim como fissuras
e rasgões que se assemelham, por exemplo, à geografia cartografada de uma cidade.
Em
suma, em todo o decorrer da ação, o corpo torna-se o eixo fulcral e essencial
no sentido da peça. Através do corpo e do seu gesto contínuo (deambular sobre o
solo), o tempo é representado no desenho (objetivo - a temporalidade do corpo
no desenho), permanecendo desta forma, uma memória e uma história que se exerce
por via do contacto não diretamente declarado.