25.2.21

Maria-Inês-Graça_TRANSFERÊNCIA-DE-USO

 

Quanto ao Workshop/Seminário nº1: Transferência de Uso, inicialmente eu encontrava-me reticente. Sem grandes expetativas, a duvidar um pouco da proposta e até ansiosa com a descrição dos trabalhos que iríamos ter que fazer, comecei a aula de mente completamente fechada.

No 1º trabalho decidi transpor a ação de abrir algo para os suportes e para os processos do desenho. Afixei uma folha de jornal no meu roupeiro, e com dois marcadores de quadro, fui repetindo ambos os gestos e os movimentos de se abrir algo. Este exercício foi, para mim, como um libertar de raiva, como uma expressão de angústia. No começo estava desmotivada, mas à medida que os movimentos foram fluindo, acelerando e fazendo uma maior pressão sobre o papel, apercebi-me que estava a descarregar o que precisava de abrir em mim e pôr cá fora. A dada altura a folha rasgou, lembro-me de parar, preocupada, mas na realidade aquele rasgão era também sinónimo da minha abertura que eu queria alcançar com o desenho.



No 2º trabalho decidi, já menos apreensiva, enrolar e desenrolar o tal desenho, resultado do trabalho anterior, vezes sem conta. Isto porque o intuito deste exercício era o de associar duas ações de campos performativos distintos (Enrolar e Repetir) sem necessariamente ter que produzir marcas ou sem ter que estar associado ao desenho. Este processo revelou-se como sendo relaxante e terapêutico mesmo que implicasse, a dada altura, de tanto enrolar e desenrolar, a destruição do desenho feito no 1º trabalho.




Já no 3º e último trabalho, que implicava explorar o redireccionamento de um ato associado aos dos meios do desenho para qualquer espaço físico fora do papel, escolhi os atos de “Salpicar” e “Espalhar”. Assim sendo, enchi um copo com água, coloquei-me dentro do meu chuveiro, salpiquei a água com uma escova de dentes e depois esfreguei-a no vidro. A experiência em si foi cómica e fez-me perceber que estas atividades são cruciais para nos apercebermos de que o desenho é muito mais que um lápis e um papel e que a performance é muito mais que uma espécie de dança ou de encenação numa sala.