DIAGRAMAR
O trabalho final para a disciplina de Desenho e Performatividade pretendeu seguir a lógica dos trabalhos que realizei na proposta do Desenho enquanto ato de presença.
O ato de 'diagramar' é algo que me interessa imenso desde sempre, pois é algo que, para além de apresentar um pensamento exposto em ação, revela um sistema de organização, um percurso cognitivo que utiliza diferentes fórmulas gráficas para organizar e desenhar um pensamento em específico.
Durante estas aulas, foram mostradas diferentes referências relacionadas com este tipo de trabalho artístico, como Joseph Beuys, que utilizava os quadros de ardósia para expor o pensamento por trás do que lecionava nas aulas, enquanto professor. Normalmente expunha os desenhos posteriormente, integrando as suas obras no fio condutor ligado ao seu trabalho e às suas ideias (figura 1).
Figura 1 - Joseph Beuys; Four Blackboards, 1972; giz sobre ardósia; Galeria label; Fonte: Tate.org.uk
Outras referências práticas como Ricardo Basbaum ou Nikolaus Gansterer, também utilizam diagramas para pensar sobre diferentes assuntos e foi a partir da lógica do trabalho de todos estes artistas que quis trabalhar o que pretendia trabalhar.
ESTÚDIO DE DESENHO
No meu trabalho de estúdio de desenho, as soluções utilizadas no espaço da exposição final, fizeram com que a questão autoral do trabalho estivesse contida numa espécie de narrativa em abismo intencional.
O meu objetivo era fazer com que o trabalho realizado para a faculdade e o meu dia-a-dia se confundissem entre si ao ser o trabalho exposto.
Para isso, no espaço da exposição, acabei por encenar o meu espaço de trabalho, montando a mesa que utilizo no meu quarto para desenhar, a cadeira para me sentar, uma série de notas e pequenos lembretes afixados à parede, mapas a simular o pensamento envolvido no trabalho e ainda elementos que apareceram nas próprias narrativas visuais (que era o trabalho principal). (figura 2)
Figura 2- Espaço expositivo e respetiva encenação do ambiente de trabalho, no Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende
Tudo isto contribuiu para que existisse uma espécie de confusão na delegação do papel de autor. A autoficção, pressupõe isso mesmo, que haja liberdade criativa no uso da autobiografia e por isso, simulei o meu espaço de trabalho como se fosse o espaço da própria personagem inserida na história realizada.
Figura 3- Espaço de trabalho contido nas narrativas visuais trabalhadas, reencenado na exposição
Ao simular este espaço e respetivos acontecimentos nele sugeridos, pensei em realizar uma série de diagramas que expusessem o pensamento de alguém que esteve a pensar sobre o próprio projeto em questão.
Figura 4 - Nikolaus Gansterer; Choreo-graphic figures: embodied diagrams, 2014-2018; Fonte: http://www.gansterer.org/choreo-graphic_figures_embodied-diagrams/?n=1
Os desenhos de Nikolaus Gansterer, foram para mim uma referência-chave para a concretização dos desenhos finais. No seu caso, utiliza informações que consegue percecionar através dos seus sentidos e do espaço envolvente para realizar composições como a da figura 4.
Gansterer utiliza diferentes linguagens, materiais e signos contidas no mesmo desenho, com um fundo de cores frequentemente contrastantes.
Desse modo, para pensar sobre o meu projeto, utilizei a mesma lógica aplicada em dois desenhos sobre as questões desenvolvidas no projeto de Estúdio de Desenho.
Figura 5 - Pensamentos sobre o método projetual em questão, diferentes meios sobre cartolina A2
Figura 6 - Pensamentos sobre as questões autorais do projeto em questão, diferentes meios sobre cartolina A2
TRABALHO FINAL
O trabalho final foi pensado, utilizando a mesma lógica, mas adaptado a uma personagem fictícia...
O meu objetivo foi pensar como seria o pensamento de alguém que trabalha em alguma área do conhecimento em específico. Então resolvi expor o pensamento desse alguém, que neste caso, foi contratado para realizar um storyboard de uma coreografia de artes marciais de um filme.
O filme escolhido foi o John Wick 3: Parabellum, pois senti que possuía uma sequência de luta específica, bastante bem concretizada, fluída e dinâmica. O título foi alterado neste trabalho para John Wack, para funcionar como uma "chalaça".
Figura 7 - Screenshot de um frame da cena de luta escolhida do filme
A partir dessa cena, analisei todos os movimentos das personagens, utilizando vetores diferentes para ações em concreto, notas e informações específicas para diferentes intenções.
Figura 8, 9 e 10 - Dossier com a sequência de lutas e análise das cenas do filme
Ao longo de 57 folhas reuni todos esses desenhos tendo a intenção de se parecer com planos e rabiscos feitos por alguém que coreografou a luta, a pensou e a esquematizou a partir destas figuras esquissadas.
Figura 11 - detalhe da página 16
Figura 12 - Diagrama, exposição do pensamento projetual da personagem
No final, encenei o guião dado pelo realizador do filme e montei o diagrama que a personagem fictícia utilizou para organizar o seu pensamento relativo ao seu projeto...
O diagrama (figura 12) expõe uma organização do pensamento, de sinalização gráfica e relativos significados, expões as personagens envolvidas na cena, legendas e ainda notas e comentários adicionais afixados posteriormente pela personagem como que anotações e desabafos pessoais.