1.11.14

Catarina Jordão


A partir de transferências–de–uso e da possível reflexão do desenho como acção performativa, foram sugeridos três exercícios que ensaiem essa relação entre o corpo, a acção e o espaço.
Assim como refere Allan Kaprow, ao reflectir sobre as actividades do quotidiano como lavar os dentes, existem várias acções ao longo do dia, todos os dias, às quais não prestamos atenção. Com isto, transferi para o papel aquilo que seria uma lavagem de cabelo. Com papel e tinta preta e recorrendo aos mesmos gestos presentes no processo, massajei o suporte como se de uma cabeça se tratasse. O resultado final acabou por se aproximar da silhueta de uma cabeça, com base nos movimentos que eu utilizo para lavar a mesma. Penso que poderia ter levado esta minha performance mais longe, com gestos mais claros e significativos.





Com base nas aulas anteriores onde foram apresentados trabalhos como o de Janine Antoni, que recorria a acções do quotidiano e as explorava exaustivamente, quase que gastando o movimento e esgotando o gesto, para a segunda actividade apropriei-me da ideia de comichão. Tendo como suporte uma parede velha, desgastada pelo tempo, com a tinta a escamar como pele seca, transferi os gestos de coçar a própria pele para a parede, com gestos contínuos por toda a superfície afectada, tornando-me assim a comichão e a salvação da parede. O objectivo era transpor aqueles momentos de ansiedade em que o corpo por vezes se antecipa à mente e se manifesta com pequenos e insaciáveis sintomas; visava transmitir a sensação de desgaste físico, de nervosismo, cansaço e sobretudo, insatisfação.



Para o ultimo exercício fiz algo tão simples quanto unir os pontos do meu corpo, criando uma linha irregular, da ponta de um braço à ponta do outro. O objectivo era transferir uma acção do desenho para fora do papel e assim usei o meu corpo como suporte, sendo ele também o elo de ligação entre este e o material.