1.11.14

Diana Trindade



 


O propósito destes três exercícios era estabelecer uma relação entre a manutenção do corpo, a manutenção do espaço, e do desenho, não esquecendo a importância do gesto - pequenos movimentos que facilmente passam despercebidos fazem grandes diferenças, e por vezes não damos conta que os fazemos. A contracção de cada músculo, a temporalidade de cada gesto, e a repetição do mesmo até à exaustão foram alguns dos aspectos trabalhados nestas três propostas de trabalho. No primeiro exercício era pedido que explorássemos a transferência-de-uso de uma acção para os suportes e processos do desenho, recorrendo os mesmos gestos, mantendo a relação que o ato estabelece com a superfície do corpo, segundo a temporalidade própria do seu campo original. Os materiais que utilizei foram uma folha de papel de jornal, fita-cola, e uma barra de carvão vegetal. Escolhi o carvão como riscador porque antigamente o carvão era também usado para higienizar os dentes. Achei interessante ver essa ligação, visto que iria sujar o papel com algo que antigamente era utilizado também como produto de limpeza. Comecei por envolver a minha cabeça com a folha de jornal e prendi-a com fita-cola; de seguida comecei a escovar os dentes, pegando na barra de carvão como se fosse uma escova e fazendo os mesmos movimentos que faria. Ao mesmo tempo que ia “escovando os dentes” ia ficando a marca de todos os movimentos feitos ao longo do processo. No segundo exercício tínhamos que explorar transferências entre duas acções de campos performativos distintos e manutenção do espaço. Não estando associado ao desenho nem à produção de marcas. Para a realização desta segunda proposta escolhi como acções acariciar e limpar. Decidi começar a acariciar os pequenos grãos de pedra que iam caindo da parede, devido à performance que estava a acontecer em simultâneo. Enquanto a minha colega (Catarina Jordão) coçava a parede com as unhas e destruía assim parte dela, pequenos montes de areia iam-se amontoando no chão, e ao mesmo tempo que acariciava os montes de areia limpava a superfície. Por último, no terceiro exercício era pedido que explorássemos o redireccionamento de um ato conotado com os meios desenho para qualquer espaço físico fora do papel. Os materiais que utilizei foram acrílico preto e um pincel. Dirigi-me a uma superfície que tivesse um padrão e ao mesmo tempo que fosse, que neste caso eram pequenos pontos formado pela diferença de cores e tamanhos dos sedimentos que compunham a superfície da tijoleira, e comecei por unir os pontos que mais sobressaiam. Todo este processo fez lembrar me as constelações, porque existem inúmeras estrelas, mas algumas sobressaem entre as outras e formam as chamadas constelações este.