19.12.14

Desenho como Documento, Espectro e Rumor Calculado - Tiago Madaleno




















“Há três espécies de homens:
Os vivos, os mortos e os que andam no mar.” (Platão)

(em desenvolvimento)

A ideia para este exercício surge duma imagem que apareceu durante o desenvolvimento do trabalho em Projeto: um sistema de carreiros.
A ação consistia então em encenar o lançamento da imagem por dois lavatórios existentes no espaço, de maneira que esta construísse um percurso – linhas das canalizações desde o local até ao mar. Simultaneamente, a cerimónia gira à volta duma celebração da perda de matéria, da substituição simbólica da imagem 1 (carreiros) que através da fragmentação, do envolvimento total com o elemento água, permitiria o aparecimento da imagem 2 (o veiculo marítimo) e com isso a possibilidade da viagem: a abertura da imagem à potência, espécie de início em suspensão.
Enquanto esta ação decorria, iria estar representado um conjunto de 49 marinheiros (o número máximo possível de pessoas dentro daquele espaço) em formatura, a conferir solenidade e validade histórica à cerimónia.
A escolha do espaço (casa de banho após as salas de desenho) deve-se a muitas das suas particularidades: sujidade, falta de luz, falta de espaço e surpresas arquitetónicas, que me permitiam brincar com algumas das possibilidades simbólicas dos elementos em jogo: por exemplo, tentar concentrar o máximo de marinheiros dentro dum espaço reduzido, de maneira que a pose da formatura não fosse um constrangimento do corpo imposto a si mesmo, mas uma influência externa - o espaço implicaria que o corpo autoritário se sujeitasse à pose; ou utilizar um ‘degrau’ existente no espaço para poder inserir lá um personagem - um trompetista - que assinalaria o ritmo da cerimónia ao mesmo tempo que procuraria confinar o seu corpo aquele lugar diminuto.
Tentar tirar partido da efabulação para poder mitificar a ocorrência de um acontecimento. De alguma forma, a não possibilidade do espetador vivenciar aquela ação presencialmente (o espectador nunca conseguiria entrar no espaço) relega ao desenho um papel de tradução da experiência: como testemunho, como instrumento operativo, … para que com as sucessivas tentativas de reformulação do evento possa contribuir para um alargamento da leitura da ação e principalmente da imaginação.