“Há
três espécies de homens:
Os
vivos, os mortos e os que andam no mar.” (Platão)
(em desenvolvimento)
A ideia para este exercício
surge duma imagem que apareceu durante o desenvolvimento do trabalho em
Projeto: um sistema de carreiros.
A ação consistia então em
encenar o lançamento da imagem por dois lavatórios existentes no espaço, de maneira
que esta construísse um percurso – linhas das canalizações desde o local até ao
mar. Simultaneamente, a cerimónia gira à
volta duma celebração da perda de matéria, da substituição simbólica da
imagem 1 (carreiros) que através da fragmentação, do envolvimento total
com o elemento água, permitiria o aparecimento da imagem 2 (o veiculo marítimo)
e com isso a possibilidade da viagem: a abertura da imagem à potência, espécie
de início em suspensão.
Enquanto esta ação decorria, iria estar representado um conjunto de 49 marinheiros (o número máximo possível
de pessoas dentro daquele espaço) em formatura, a conferir solenidade e
validade histórica à cerimónia.
A escolha do espaço (casa de banho após as salas de desenho) deve-se a muitas das suas particularidades: sujidade, falta de luz, falta de espaço e
surpresas arquitetónicas, que me permitiam brincar com algumas das
possibilidades simbólicas dos elementos em jogo: por exemplo,
tentar concentrar o máximo de marinheiros dentro dum espaço reduzido, de
maneira que a pose da formatura não fosse um constrangimento do corpo imposto a
si mesmo, mas uma influência externa - o espaço implicaria que o corpo autoritário
se sujeitasse à pose; ou utilizar um ‘degrau’ existente no espaço para poder
inserir lá um personagem - um trompetista - que assinalaria o ritmo da
cerimónia ao mesmo tempo que procuraria confinar o seu corpo aquele lugar
diminuto.
Tentar tirar partido da
efabulação para poder mitificar a ocorrência de um
acontecimento. De alguma forma, a não possibilidade do espetador vivenciar
aquela ação presencialmente (o espectador nunca conseguiria entrar no espaço)
relega ao desenho um papel de tradução da experiência: como testemunho, como
instrumento operativo, … para que com as sucessivas tentativas de reformulação
do evento possa contribuir para um alargamento da leitura da ação e
principalmente da imaginação.