6.2.15



Tiago Madaleno - Trabalho Final


"Capturado, tomava a inapreensível 
Forma do furacão ou da fogueira
Ou do tigre de ouro ou da Pantera 
Ou de água que na água é invisível." 

(Jorge Luís Borges, "Outra versão de Proteu", "Obras Completas", 1999, pág. 109 e 110)


Este trabalho procura pensar sobre a possibilidade de encarar um documento como uma performance em si mesmo. Pensar o documento não necessariamente como um elemento de registo ou antecipação/instrução de uma performance, mas ponderar até que ponto um documento pode ser encarado por suas potencialidades performativas.

O trabalho prático, influenciado pela ideia de rumor calculado proposta por Allan Kaprow, procurava tirar partido da efabulação de algo ocorrido num espaço para alterar a sua perceção e poder mitificar um acontecimento.
A ideia, que já advêm do último exercício, consistia em enviar uma imagem por dois lavatórios existentes num espaço, de maneira que esta construísse um percurso – seguindo as canalizações até ao mar – que pudesse motivar a viagem. Simultaneamente, um grupo de 49 marinheiros, o número máximo de pessoas que caberia naquele espaço, iriam conferir solenidade e validade histórica à cerimónia. Esta sobrelotação do espaço garantia um paradoxo: aquilo que oficializava a cerimónia era também aquilo que impedia que ela fosse vista pelo público. Desta forma, instituindo uma “via da desaparição” (Peggy Phelan (1998)) em toda a performance, aproximando da ideia de Happening proposta por Kaprow, relegando para o rumor, a especulação, a memória documental, todo o potencial performativo.

Aquilo que começou como sendo um estudo coreográfico de como se procederia a cerimónia, rapidamente foi crescendo pelo focar nos gestos, na forma como o corpo se relacionava com o espaço e no potencial simbólico que emergia dessas situações. Assim, surgiram personagens (como o trompetista, os lançadores), e situações particulares (micro-histórias) que iam sendo abordadas, impedindo a concretização do projeto e provocando o confronto de pressupostos anteriormente tidos como certos. A possibilidade de haver contradições motivava não só a reformulação, como a garantia de rumor associada à própria narrativa. O desenho surge aqui explorando a sua dimensão de potência, de suposição, especulação. O desenho diagramático, ou a utilização deste como matriz combinatória (recorrendo ao papel vegetal, ou milimétrico), a pintura, a fotografia, eram pensados segundo uma ideia de ensaio, que procurava manter possibilidades em aberto, questionar os princípios/expetativas que tais meios conferiam a quem os toma como documentos. Trata-se principalmente de deixar possibilidades em aberto – contrariar certezas, apresentar dúvidas, alargar a fábula.







(Do espaço: organização)








(Lançadores: momento da imagem)









(Trompetista: momento do equilíbrio)








(da pose: continência)







(da comunicação: encaixe e violência)









(vista oficial)