Um osso que foi encontrado no jardim adquire um significado
de troféu arqueológico no momento da sua descoberta, apropriação e deslocação
para o contexto artístico. O diálogo que se cria com um objecto recolhido da
natureza em pleno processo de envelhecimento e decomposição faz com que
sentisse a necessidade de devolver algo em troca, como uma negociação. A partir
do osso são criados moldes que dão origem a duplos do original, que têm um
objectivo: a criação propositada de esculturas que são objectos arqueológicos
para serem perdidos.
O osso é descontextualizado da sua função vital de matéria
orgânica e torna-se um estímulo de acções, o primeiro acto de descoberta, e o
segundo, o acto de perda. Para criar uma relação circular e uma dinâmica, é
importante que o osso seja perdido para ser novamente encontrado. Deste modo, e
usando a tradição de desenhar ou ornamentar ossos enquanto suporte, os duplos
tornam-se também objectos de instrução. Ou seja, em cada duplo é inscrita a
data em que foi criado, a data em que foi devolvido à natureza e uma instrução
para o perder novamente, sendo que a perda não é, obviamente real, mas uma
perda consciente.
O trabalho conclui-se com o osso como “prova” da primeira
descoberta, um duplo do mesmo que é enterrado no local onde o original foi
encontrado (a troca), e uma serie de duplos que são entregues a outras pessoas
para serem perdidos ou passados de mão em mão. Assim ficam reunidas condições
para uma dinâmica, em que cada vez que os duplos são redescobertos se vão
legitimando tanto como objectos arqueológicos como objectos que estimulam uma
acção num ciclo que só se fecha quando o objecto deixar de existir.