9.2.15

José Costa- Trabalho Final

Um osso que foi encontrado no jardim adquire um significado de troféu arqueológico no momento da sua descoberta, apropriação e deslocação para o contexto artístico. O diálogo que se cria com um objecto recolhido da natureza em pleno processo de envelhecimento e decomposição faz com que sentisse a necessidade de devolver algo em troca, como uma negociação. A partir do osso são criados moldes que dão origem a duplos do original, que têm um objectivo: a criação propositada de esculturas que são objectos arqueológicos para serem perdidos.


O osso é descontextualizado da sua função vital de matéria orgânica e torna-se um estímulo de acções, o primeiro acto de descoberta, e o segundo, o acto de perda. Para criar uma relação circular e uma dinâmica, é importante que o osso seja perdido para ser novamente encontrado. Deste modo, e usando a tradição de desenhar ou ornamentar ossos enquanto suporte, os duplos tornam-se também objectos de instrução. Ou seja, em cada duplo é inscrita a data em que foi criado, a data em que foi devolvido à natureza e uma instrução para o perder novamente, sendo que a perda não é, obviamente real, mas uma perda consciente. 

O trabalho conclui-se com o osso como “prova” da primeira descoberta, um duplo do mesmo que é enterrado no local onde o original foi encontrado (a troca), e uma serie de duplos que são entregues a outras pessoas para serem perdidos ou passados de mão em mão. Assim ficam reunidas condições para uma dinâmica, em que cada vez que os duplos são redescobertos se vão legitimando tanto como objectos arqueológicos como objectos que estimulam uma acção num ciclo que só se fecha quando o objecto deixar de existir.