11.10.15

Diana Costa



(1) Transferência corpo-desenho

Massajar foi o verbo aplicado na primeira transferência de uso, onde partindo do acto produzido pelo corpo procurou-se uma forma de o redireccionar para o desenho. A massagem é uma acção produzida invisivelmente sobre um corpo, não existem marcas visíveis quando a acção se realiza. Exercendo a força, o manuseamento dos braços, e essencialmente das mãos e dos dedos transferi para o papel o processo de massajar. 
Através da utilização do guache registei estes movimentos invisíveis em dois diferentes papéis. Numa primeira tentativa, utilizando uma folha de papel offset registei os movimentos que esta acção produziu, onde surgiram um pouco presos entre si, devido às características  de resistência do próprio papel. Este suporte absorvia muito rapidamente a tinta, o que causava uma dificuldade nos movimentos que produzi. Com a utilização das folhas de papel de jornal a acção tornou-se mais semelhante ao próprio acto de massajar devido à sua característica flexível. O gesto fluía, as mãos sentiam a textura como se de pele se tratasse. As marcas produzidas tornaram-se aqui muito livres e dispersas do que na primeira tentativa no offset. Verificaram-se diferentes marcas em cada registo, obtendo sempre algumas pequenas semelhanças, pois a base dos movimentos efectuados seguiam sempre um mesmo percurso. 





(2) Transferência corpo-espaço

Recorrendo a acções do quotidiano e à sua exploração excessiva, nesta transferência de uso tratando da relação do corpo com o espaço utilizei os verbos esfregar/ limpar. De uma maneira um pouco obsessiva explorei estes gestos continuamente, exagerando nos movimentos que fui produzindo ao longo da acção. Iniciei esta transferência esfregando apenas uma parte de um degrau de uma escada, em movimentos contínuos e rápidos. Num outro momento limpei todo o degrau, de um lado ao outro, excessivamente, enfatizando os movimentos que o corpo produzia. Existia uma necessidade de extrema movimentação por parte do corpo, de forma a que a acção chegasse a um polimento da superfície, carregando nos gestos, levando esta tarefa a um nível extremo. A necessidade de exercer movimentos contínuos na busca do esgotamento do gesto e do corpo. O gesto não era produzido só pelo braço, mas por todo o corpo para que este fosse sempre acompanhando a acção proposta.




(3) Transferência desenho-espaço

No último exercício onde a acção do desenho passaria para fora do suporte, para um espaço físico, utilizei aqui o verbo riscar. Usando o chão como suporte, pois este contém um tipo de padrão contínuo, risquei com giz cada elemento com duas cores diferentes. Apropriei-me das formas contidas na superfície do chão para lhe dar outra configuração. Também um pouco compulsivamente fui ocupando cada pedaço branco que aparecia, de forma aleatória, e existiu um momento que estava a utilizar as duas mãos para preencher estes pequenos espaços. Ao fim de algum tempo a acção acabou por ser interrompida devido à dor que estava a provocar nos dedos e mãos. A minúcia do padrão exigia um pequeno esforço contínuo no preenchimento destas formas. Através da passagem de um pano sobre estes preenchimentos de cor limpei todo o espaço "hospedeiro", ficando apenas o pó produzido pelo giz.