Com o intuito de pensar e
questionar a possibilidade de arquivo e documentação de um acto performativo,
foi nos requerido a realização de um a acção que fosse desviante em relação ao
espaço em que esta se inseria.
Decidi, então como acção desviante,
ver televisão numa janela.
Sentei-me durante 24 horas em
frente a uma janela como se estivesse a ver televisão. À semelhança da
televisão a janela é um vidro onde conseguimos ver imagens. Porem a televisão,
e todos os ecrãs que existem agora, transportam-nos para uma realidade de certo
modo ficcionada e não real, uma realidade distante, confortável, tolerável, controlável,
desviada. A janela por sua vez, transporta-nos para a nossa própria realidade,
para o que esta imediatamente á nossa frente, sem controlo, sem distancia, sem
filtro. É estranho constatar como é relativamente fácil e até prazeroso, para
algumas pessoas, passar o dia a ver televisão, mas é quase insuportável passar
24 horas a olhar para uma janela.
Com este acto
pretendia reflectir sobre o efeito hipnótico que os ecrãs têm sobre as pessoas.
É compreensível a admiração por um objecto que consegue projectar um sem fim de
imagens e mundos, mas é também inquietante o afastamento que este provoca, da
realidade que nos é mais próxima, da realidade que esta do outro lado da
janela.
Mais que um questionamento do uso excessivo da
tecnologia moderna este acto sugere um questionamento da compreensão e da
afirmação do real. Como podemos documentar a realidade? Como podemos documentar
uma realidade sem criar uma outra? O que é a realidade? É aquilo que esta por
trás da televisão? É aquilo que esta por trás da janela? Ou é aquilo que esta
por trás dos nosso olhos?