20.12.15

Pedro Cunha



Com o intuito de pensar e questionar a possibilidade de arquivo e documentação de um acto performativo, foi nos requerido a realização de um a acção que fosse desviante em relação ao espaço em que esta se inseria.
Decidi, então como acção desviante, ver televisão numa janela.
Sentei-me durante 24 horas em frente a uma janela como se estivesse a ver televisão. À semelhança da televisão a janela é um vidro onde conseguimos ver imagens. Porem a televisão, e todos os ecrãs que existem agora, transportam-nos para uma realidade de certo modo ficcionada e não real, uma realidade distante, confortável, tolerável, controlável, desviada. A janela por sua vez, transporta-nos para a nossa própria realidade, para o que esta imediatamente á nossa frente, sem controlo, sem distancia, sem filtro. É estranho constatar como é relativamente fácil e até prazeroso, para algumas pessoas, passar o dia a ver televisão, mas é quase insuportável passar 24 horas a olhar para uma janela.
 Com este acto pretendia reflectir sobre o efeito hipnótico que os ecrãs têm sobre as pessoas. É compreensível a admiração por um objecto que consegue projectar um sem fim de imagens e mundos, mas é também inquietante o afastamento que este provoca, da realidade que nos é mais próxima, da realidade que esta do outro lado da janela.


Mais que um questionamento do uso excessivo da tecnologia moderna este acto sugere um questionamento da compreensão e da afirmação do real. Como podemos documentar a realidade? Como podemos documentar uma realidade sem criar uma outra? O que é a realidade? É aquilo que esta por trás da televisão? É aquilo que esta por trás da janela? Ou é aquilo que esta por trás dos nosso olhos?