7.2.16



CLARA BUSER

| Cobrir| Enrolar | Camuflar | Envolver | Tecer |
| Invólucro | Cápsula | Contentor | Casulo |





 













Envolvo-me com fio, teço uma camada sobre as minhas camadas, abrigo-me do exterior, volto-me para o interior, encerro-me para me transformar.
Sou um invólucro que contém sucessivos invólucros, camadas de pele, superfícies, “porção de coisas da mesma espécie estendidas à mesma altura sobre uma superfície.”[1]
Sou invólucro de mim e de outro, sou invólucro para uma vida que se forma dentro de mim, sou invólucro da vida que possuo.
“O corpo é um invólucro: pois serve para conter aquilo que depois há que desenvolver. Desenvolvimento interminável. O corpo finito contém o infinito, que não é nem a alma, nem o espírito, mas antes o desenvolvimento do corpo.”[2]
O corpo que ocupo.
Cobrir; enrolar; camuflar; envolver; tecer; propõem acções que se ligam ou relacionam com as ideias de casulo; cápsula; contentor; invólucro; que aprofundo em atelier.
Acções que por si levam à maturação da ideia de corpo. Este inseparável de mim. Olho-o de fora, olho-o de dentro.
Tomando o tecer (mais do que cobrir, enrolar, camuflar ou envolver) há um casulo que se conforma quando a linha se ajusta ao corpo e lhe denuncia as formas do já contido noutras peles. E do pêlo, à pele, à carne, ao osso, à víscera, a outro que cresce dentre deste.
Este que sempre matura e é outro todos os dias. Teço-lhe outra pele que me revela a sua topografia e me empresta padrões e movimentos de linha que redescubro no desenho.


[1] camadas, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/camadas [consultado em 26-01-2016].
[2] Dos Cinquenta e oito indícios sobre o corpo de Jean-Luc Nancy