Escorregar sobre o papel
1º parte_Testes
A selecção do verbo "escorregar", foi algo muito automático. Escorregar para mim nada mais é que a quebra de uma linha, de um ritmo, de uma direcção. Seguindo este mesmo principio, comecei a pensar, como seria imprevisível qualquer resultado, como seria escorregar na folha, como se representaria esse gesto.
Como todo este processo tem um carácter de imprevisibilidade, a associação ao meu trabalho foi automática e fez aqui todo o sentido. No meu trabalho existe constantemente este ato de elaborar algo que se vai construindo de forma imprevisível e impensada, mas com um processo lento e controlado, quando "escorregamos" sobre o papel esse mesmo acto de algo que se constrói de forma imprevisível acontece, mas desta vez descontrolado.
Pensei então nesta primeira fase do trabalho usar técnicas que representassem esta ideia, para isso evitei desde logo o uso da mão direita como condutor da linha, pois assim o controlo sobre o meio não seria habitual, mas sim mais desconfortável, e não tão rígido e controlado(1ªtentativa).
Depois usei algo que quebra-se o ritmo da linha, para isso, e com uma tesoura, ia simplesmente batendo no lápis a medida que este traçava o papel originando os tais escorregões ao longo da folha(2ªtentativa). Passei depois para o uso de dois lápis ao mesmo tempo para aumentar o descontrolo e ao mesmo tempo produzir uma mancha mais ruidosa.
Outra das experiencias ainda neste primeiro ponto foi o de cozer. Pensei em cozer pois associo sempre uma ideia de quebra a esse acto, ao mesmo tempo que nos permite a elaboração de dois desenhos distintos, sendo um completamente cego nas traseiras da folha(3º tentativa).
1ª tentativa
2ª tentativa
3ª tentativa
2ª Parte_Reflexão
Em seguida reflecti sobre os resultados.
-O ato de escorregar é algo que deixa marcas pouco visíveis, ou mesmo invisíveis depois do desenrolar de varias tramas.
-O que aparece no papel como desenho pode ser uma metáfora para o que é escorregar.
-Escorregar pode deixar uma marca, umas vezes mais visível outras vezes menos, mas que contudo se apaga com o tempo, ou pela sobreposição de novos vestígios, ou mesmo pela falta de força.
-Como representar isso no espaço sem ser literal?
-Como condicionar alguém criando uma interessão natural? (partindo do pressuposto de que escorregar, pode ter ou não, repercussões no futuro de forma quase imperceptível, tal como a marca deixada quando se escorrega).
3ª Parte_Instalação (sem título)
A resposta para todas as questões e conclusões foi uma instalação, instalação essa onde cozia no espaço uma linha preta, com fio de cozer.
Esta linha era quase invisível, e a falta de luminosidade das 7 da tarde também ajudava a camuflar a própria instalação.
Cozer no espaço implica fixar algo, agrupar, tal como cozer uma peça de roupa.
Então foi isso que fiz, cozi toda a faculdade, desdá sala, até ao jardim, passando pela entrada em direcção ao pavilhão de escultura, vindo depois para o pavilhão de pintura, indo em seguida para o pavilhão sul onde entro pelas traseiras junto a parede, acabo por cruzar o pavilhão no rés-do-chão descendo as escadas para o auditório, onde a instalação acaba por se perder.
Cerca de 200 metros de fio pelo menos espalhados pela faculdade, eram imprevisíveis quase, mas condicionavam o fecho de algumas portas, seguravam alguns vasos, e mexer num ponto implicaria mexer com toda a instação, pois é um rasto que se relaciona com todo o espaço por onde passa.
Pensar nesta instalação é pensar em escorregar, pensar em algo que fica para trás, mas que depois afecta o percurso mais a frente, tal como aconteceu no desenho, nas minhas primeiras experiencias, por muito camuflada que a linha estivesse, não existira tal composição sem ela, sem todas elas, linhas que não funcionam com muita força sozinhas, mas que causam uma mancha forte juntas.
Instalação (sem título)