(1)
Martelar
O obreiro martelava a parede.
Em curso estava a reparação de uma campainha à entrada de um
prédio.
Ecoava um som sinuoso.
Eram ritmos que marcavam um compasso de tempo, feito de
alternâncias tanto na forma como na vontade.
Martelar; parar para descansar; porquê parar? Continuar para
terminar, de vez; voltar para ficar bem feito; martelar, martelar, martelar…
Ou seja, as pessoas que por ali transitavam, na cidade,
naquela rua, naquele sitio, estavam sujeitas a reflectir aquela interferência
nas suas deslocações, ou posteriormente noutras circunstâncias.
Do outro lado da rua, fui hospedeiro daquele batimento.
Troquei o martelo por uma pedra, o prego por uma barra de carvão e contra a
parede coloquei papel, onde imprimi aquele contágio.
(2)
Sobrepor . substituir
. encobrir . esmagar
Por debaixo, o chão, os bichos, os fungos, a parte húmida, a cobertura, o refúgio, a paralisação.
Não se vê como é por debaixo.
Aqui, embrulho-me com um tronco, pesado, tombado, quase enraizado ao chão novamente. Pesar o corpo do tronco no meu próprio corpo, a tentativa imperfeita de coexistência.
Pelo menos, respeitando aquilo que é, um peso sobre outro peso por cima do chão, desvinculo-me da estrutura física, pois não só me sinto esmagado mas também aposentado da minha condição, como o tronco, em morte parcial.
(3)
Destacar . acrescentar
Sem procurar contrariar a forma tronco-outrora-árvore, faço uso de variantes da mesma, como o papel que realça pequenas saliências-outrora-ramos e um “a mais” pequeno tronco, disposto na diagonal como um escadote improvisado.
A forma que era já antes um elemento bastante presente no espaço, foi intuitivamente intervencionada, retocada, usada como suporte durante um curto espaço de tempo. O vento fez cair as “folhas” e o pequeno tronco foi novamente arrastado para o lugar anterior, pois as ruínas de uma ideologia devem permanecer testemunhas, invioláveis. Um desenho.