16.10.16

João Paulo Freire

















Pensar num movimento repetitivo sempre me leva a pensar no ato de limpar, talvez por alguns distúrbio psicológico mal resolvido, o varrer de uma casa, o esfregar de uma roupa, o ato de escovar algo, sempre repetições automáticas, mecânicas e braçais.
O que é o desenho se não algo similar a limpeza? Pelo menos em sua configuração física existe uma semelhança. Todavia o resultado é o inverso. Quando mais se esfrega, ou varre (com o pincel) mais se suja, mais se cria informação visual.


Na minha primeira atividade usando movimentos similares ao de escovar os dentes (e uma escova de dentes como ferramenta) desenhei um sorriso. No primeiro momento os movimentos iniciais geram a construção do desenho da boca, contudo, chego ao limite da construção e meus movimentos começam a sujar o desenho, nascendo assim um paradoxo. Quanto mais eu escovo a boca, mais eu a deixo com aspecto poluído.


Na segunda atividade pensei em levar a percepção sensorial a uma expressão que afetasse meus transtornos compulsivos naturais. Ações corriqueiras levam a essas questões em seu caráter mais inconsciente. Procurei uma ação simples mas que tivesse uma força além da sua própria essência. Pensei num ato básico e cotidiano, como o de acender uma lâmpada. Como tornar algo tão simples em algo extremamente agravante? Busquei seu extremo ao ligar e desligar freneticamente a lâmpada. A ação por si já é de grande incômodo, além do próprio temor de um possível dano ao dispositivo eletrônico. Percebi um gesto com o mínimo de esforço físico e de grande agravante mental. Nesse processo visualizei um exagerado senso de simetria e organização instalado na minha natureza.


Usando uma lente de aumento procuro amplificar uma pequena fração de um objeto maior e construo o meu desenho em cima do meu ângulo de visão daquela fração. Nesse terceiro exercício exploro o meu ponto de vista daquele trecho mostrado na lente de aumento, porém, cada ângulo do olhar irá ter uma representação diferente do trecho ampliado pela lente.