16.10.16

agente involuntário


 [1] desenhar com espirro

Conduzi o exercício com a ideia de obter características formais previamente estabelecidas. 
1. queria produzir grão. 
2. queria manter um anonimato, ou seja, não queria trabalhar com acções 
auto-propostas, evitando conflitos de índole pessoal na percepção de mim mesmo.

Por isso identifiquei no corpo reações/ações sobre as quais não tenho controlo ou consciência de controlo. Sendo alérgico ao pó, segui a lógica de produzir desenhos com espirros. O pó é a matéria, o espirro é o instrumento do desenho. O processo é assim encadeado num sentido voluntário por um mecanismo não-voluntário

"(...) do not flatter yourself that you know the things nature performs for herself, but jecoice in knowing the purpose of those things designed by your own mind"1
 - Leonardo Da Vinci









[2] esperar (um espirro) no escuro



1. esperar (ação passiva)
2. espirro (verb. espirrar - ação implícita) 
3. no escuro (não ligar a luz - não ação)


Pensando nas ações que derivam do verbo espirrar e por analogia visual, associei 'fechar os olhos' a 'ficar no escuro'. 'Espirrar no escuro', pareceu-me falar de uma redundância sobre o negro. A tela negra ou o video é assim usado enquanto documentação de uma acção sonora e não visual. A experiência serviu para especular sobre a alteração do comportamento do corpo perante as circunstâncias que o privam a agir sem a luz. Demorei algum tempo a entender que o meu corpo sustinha a respiração por mim. Quando me forcei a inspirar, consegui finalmente espirrar.
Tentei replicar isto sem sucesso. Minutos depois, derrotado, acendi a luz.
Espirrei 3 vezes, poucos segundos após. 





(00:01:18) 
(00:07:18)


[3] desenho cego


"La acción que desencadena en el trazo del dibujante es similar al efecto producido por la bola sobre la mesa de bilhar una vez efectuada la primeira «atacada»2

O desenho cego é uma proposta de actuação onde se rejeita ver o suporte em que se desenha - por extensão, o que se desenha. 'Não ver' relaciona um espectro de acções entre sentidos voluntários e não-voluntários. Levou-me a criar uma acção onde coloco uma venda nos olhos e reponho o pó que varri para o espaço onde o tirei. Gosto que seja um gesto simbólico: não só devolvo mas também desenho, usando um coador - instrumento que separa o pó (deixando-o cair) de outras partículas varridas. Caminho com a mão na parede como a ponta de um lápis na superfície de uma folha. 



__________
1NASA Technical Reports Server (NTRS). Muscular activity and its relationship to biomechanics and human performance. Publicado em 1 de Fevereiro de 1994. 
2AA.VV. (1999) ESTRATEGIAS DEL DIBUJO EN EL ARTE CONTEMPORÁNEO. Madrid. Ediciones Cátedra