6.2.17


’TV Screan’’ 



“Supondo que a imagem induz passividade, como pode ela levar a cometer um acto? Se pelo contrário, coloco a hipótese de que não a recebo passivamente, a imagem deixa de estar a origem dos meus actos, mas sim eu mesma, enquanto sujeito livre da minha acção”. (Mondzain, 2009, pp. 19-20). 

“A alienação do espectador em favor do objecto contemplado (o que resulta da sua própria actividade inconsciente) se expressa assim: quanto mais ele contempla, menos vive; quanto aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo. Em relação ao homem que age, a exterioridade do espectáculo aparece no fato de seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele. É por isso que o espectador não se sente em casa em lugar algum, pois o espectáculo está em toda parte” (DEBORD, 1997: 24).
Estabeleço assim um paralelo, a partir desta afirmação de Debord, com o mito de Narciso onde, o acto de se mirar é transformado na busca do reflexo conhecido, na imagem de si próprio, numa familiaridade para além da estranheza, com desvios subtis em relação a expectativas culturais que as representações históricas do tema nos fazem esperar. Há em Narciso aquilo que é provocado pela imagem, uma alienação em favor do objecto contemplado e um desprezo pela sua realidade em favor de uma realidade que não se chega a materializar. Desconhecendo a sua aparência, um pouco como o reflexo de que somos ‘’livres’’ na sua detenção e controle, acaba por desaparecer refém de uma utopia. Aqui entra a importância da retórica num contexto actual artístico, quer o artista se assuma como consciente dessa importância ou não, à semelhança do que Eco defende no belo de uma representação do horrendo, sendo já esta mesma afirmação um desvio, a retórica confronta-nos com questões adversas ao que será expectável. Coloca-nos diante um quadro de referências comuns que cria uma leitura homogénea das imagens transformando o seu significante, colocando em questão a imagem mental prévia que nos permite reconhecer elementos ou figuras, provocando o aparecimento de novas imagens ou questões, tanto a nível social como artístico.
Proponho a partir de todas estas questões, uma reflexão sobre o ecrã, a imagem e a estática do e no ecrã e, do e no espectador. Se a imagem é, segundo estes autores, por um lado culpada e por outro inocente e, se esta divulgação das imagens deveria acabar com o medo ao invés de o aumentar, trago duas abordagens á anulação da imagem através de uma imagem.

Parece-me também relevante referir que, a escolhas destes dois mediums teve muito a ver com as semelhanças e importância que ambos tem na propagação da imagem, o vídeo e a gravura. Não podemos, de todo deixar de comparar a gravura, por exemplo, ao cinema; o cinema e a fotografia “são” a era da reprodutibilidade, a gravura é um procedimento artístico que engendra o múltiplo, que se associa a condição de reprodutibilidade. Esta escolha será já o primeiro elemento desviante e a “imagem”, o grau zero.