27.6.19

Desenho como ato de presença - Fábio Araújo


De lados opostos da mesa, duas pessoas encontram-se unidas e de mãos atadas através de uma  única corda, possuindo apenas um lápis de carvão nas suas mãos. Com uma folha de papel a cobrir a mesa, elas desenham-se uma à outra. O comprimento da corda faz com que não seja possível o livre movimento das mãos restringindo desta forma os movimentos dos desenhadores. O ato de desenhar adquire desta forma um jogo de poder e de confronto onde a corda que une os participantes torna-se no veículo de disputa para conseguir a força e controlo necessário para fazer o registo no papel. Desenhar torna-se num campo de batalha onde o desenhador tem de lutar pelo poder do movimento do lápis na folha de papel ao mesmo tempo que tem de desenhar e retratar essa presença hostil, o inimigo na outra ponta da mesa que lhe impede de fazer o mesmo. Os próprios ruídos e sons estridentes dados pelo contacto dos lápis na folha de papel assemelham-se a um campo de batalha onde cada um dos participantes luta para a obtenção de maior controlo e território. O resultado dos dois desenhos evidencia linhas fragmentadas e descontínuas, apontamentos e registos pontuais onde a linha surge marcada no suporte com uma forte presença ao ponto de quase rasgar a própria folha.  A tentativa de um retrato fidedigno dessa força hostil sai frustrada, apenas ta tentativa de representação, sugestões e resquícios do evento permanecem.