30.3.20

Retórica do ato performativo | Leonardo Vicentin


A autorrepresentação deste exercício está situada num contexto específico de espaço e tempo. A pandemia do COVID-19 transformou os modos de relacionar e ver o mundo. Criou-se medo, paranoia, distâncias que reformulam nossa própria identidade.
O exercício foi fortemente influenciado pelo momento presente e condição em que foi realizado. Mesmo em isolamento, a convivência com outras pessoas na mesma residência é inevitável. Socialmente, não estávamos isolados... haviam pessoas que embora estivessem compartilhando o mesmo sentimento continuavam a zelar pelas pessoas que convivem. Entretanto, este sentimento compartilhado é carregado de individualismo que põe em conflito a convivência com a questão de isolamento.
No sentido literal, o gesto de afago no cabelo representa o que é: a presença de alguém que está zelando por outro. Entretanto, não é suficiente para o sentimento individual de isolamento. É neste momento em que o desvio acontece: a expressão de isolamento é dada pelo encobrimento da face pelo movimento de um papel higiênico. O papel higiênico remete às imagens veiculadas na mídia onde estoques destes itens são esgotados em supermercados refletindo o individualismo que o COVID-19 trouxe à tona.