RETÓRICA DO ATO PERFORMATIVO
Sobre a imaculada folha se propôs o exercício da auto representação. Debati-me vários minutos de lápis na mão sobre que marca fazer na folha. A auto representação não me é habitual. Entre a frustração e o entusiasmo levei a folha à cara, modelando-a aos meus traços. Estava a criar uma mascara que ia ficando mais fiel com a insistência do gesto. Passei nisto quase uma hora.
O processo desenvolve-se dentro do gesto que levaria a folha ao lixo -Amarrotar- que é usado como potencia criativa desviando o suporte do seu uso natural e aproximando-o da escultura.
A seguinte etapa consistiu em voltar a trás.

Seguindo o esforço de modelar o papel ao meu rosto, que lhe conferiu, por meio de múltiplos vincos, a tridimensionalidade, seguiu-se o esforço de apagar o progresso. Tornar a folha de novo plana exigiu diversas estratégias. Comecei com a dobradeira do osso a desamarrotar o papel, alisando-a o máximo possível. Daí em diante, entre passar a folha a ferro e humedece-la com agua para a secar à pressão, o papel foi-se alisando e os vestígios da primeira ação foram-se tornando menos proeminentes.
A folha está de novo plana, mas a fibras do papel estão para sempre danificadas. Sobre a superfície do papel há leves irregularidades. É subtil, mas óbvio: Nesta folha de papel vazia está o meu rosto.
