6.5.21

Maria-Inês-Graça_WORKSHOP-3:DESENHO-INSTRUÇÃO-PERFORMANCE

WORKSHOP Nº3


No contexto deste mesmo workshop que pretende ensaiar e refletir o desenho como proto-performance, cada participante da turma levou para a aula de 30/04 duas instruções (visuais ou visuais/verbais), que seriam executadas por um dos colegas. 

Uma dessas instruções deveria levar à realização de um desenho ou de uma série deles, e que seria feita durante a semana seguinte, até à aula de 07/05. A segunda deveria de remeter para a realização de uma outra ação (que não um desenho), a ser executada na própria aula de 30/04.

Assim sendo, com este enunciado, troquei as minhas instruções com o Gil, ficando com as dele.

Acerca das instruções do Gil:

O Gil entregou-me esta espécie de "envelope", como se pode ver pela imagem:


Este continha uma folha de rosto com ambas as instruções, e no seu interior papéis para cada dia da semana para a realização da segunda proposta de instrução, a ser feita de 01/05 até 06/05.

A partir do que o Gil redigiu, iniciei a primeira instrução que ele apresenta: "Está atento. Observa e coleta conversas alheias. Repete-as (mediante registo semanal) através da tua memória delas. Não mais que 1 min.".

Esta instrução foi realizada na aula, e não em formato de registo semanal. Desloquei-me pelos vários edifícios da Faculdade de Belas Artes do Porto a ouvir conversas de estranhos e de colegas, algo que, curiosamente, já costumo fazer. Reservada quando estou sozinha, pouco comunicativa e passando por despercebida, costumo escutar com atenção conversas alheias. Portanto, identifiquei-me de imediato com esta ordem.

Quase como um ninja, com o meu bloco de desenho e uma caneta apenas, encarnei esta minha habitual personagem e recolhi os seguintes segmentos de conversas que fui presenciando e captando secretamente:


Ao reler e ao relembrar o contexto destas conversas, achei engraçado como as expressões perdem o seu sentido, a sua função numa conversa entre quem comunica e quem recebe a informação, quando isoladas e colocadas fora do seu contexto, do meio em que surgiram.
Através deste exercício de instrução passei a ver as conversas alheias e o seu relembrar de uma outra forma: em vez de ser o resultado involuntário de aborrecimento em qualquer que seja o local e o momento em que me encontre, pode ser um divertido e curioso jogo de memória de palavras, expressões e frases soltas que surgem em dado local e momento.

Durante a semana, parti para a concretização da segunda instrução que o Gil propôs: "Observa e coleta imagens alheias, movimentos e gestos. Traduz os mesmos através da memória que ficaste deles. Faz um breve "desenho" diário no formato pré-concebido e que disponibilizo.".

E, deste modo, de 01/05 a 06/05 realizei esta ordem, respeitando cada regra imposta. Exceto que as imagens, movimentos e gestos passaram também a envolver sensações, emoções e conversas minhas.

01/05


Lembro-me de ter visto esta fotografia da Britney Spears pouco tempo depois de ter acordado neste sábado, e de ter sentido o que ela estava a sentir. Revolta e angústia. A imagem ficou-me na mente o dia inteiro e tornou-se no ícone desse mesmo sábado.

02/05


Neste dia, dia da mãe, eu e os meus pais almoçámos com a minha avó paterna, e fiz-lhe uma pequena entrevista acerca das viagens da pesca do bacalhau do meu avó. Ao explicar-me e ao contar-me algumas histórias, notei que a minha avó se movimentava para demonstrar certas situações associadas à salga, por exemplo, do bacalhau. Este movimento horizontal das mãos ficou-me na mente inevitavelmente.

03/05 


Neste dia desenhei uma barata tonta porque, literalmente, me senti como uma na aula de Estúdio de Desenho nas Oficinas de Gravura... digamos que eu e a Gravura temos uma relação de amor-ódio. A ansiedade que esta cria em mim, o desconforto a isso associado fizeram-me lembrar desta "personagem" e quão bem a encarnei.

04/05


Este foi um dia feito de incertezas, de aborrecimento, de paralisia e de medo. Quis representar tudo aquilo que estava a sentir de uma vez só, tudo ao mesmo tempo, num gesto só. As mãos simbolizando indiferença e o rosto supostamente marcando felicidade quando que se vive exatamente o oposto, foi o que me ficou deste dia.

05/05


Neste dia saí com uma amiga de longa data, e ficou-me na mente uma expressão que ela me disse num contexto engraçado. Ela disse-me que a minha gata podia namorar com o gato da prima dela, porém, eu disse-lhe que ela já estava comprometida com um gato de Lisboa. A resposta dela foi: "Longe da vista, Longe do coração". Achei tão icónica a frase e no contexto em questão que tive que a representar.

06/05


Este dia foi dia de limpezas por casa. E decidi representar aquilo que sinto sempre neste dia tão angustiante. O meu pai é quem limpa a casa e não deixa ninguém ajudá-lo. Por mais que tente, nunca me deixa fazer nada para o auxiliar. De mau humor, anda casa fora de aspirador e de esfregona na mão. E eu tenho que ficar "presa" num único espacinho da casa, para não sujar o que já foi limpo e para não o perturbar.

Esta instrução foi extremamente divertida e curiosa de se fazer, porque acabei por criar um diário feito a partir de desenhos de cada dia, em vez de textos. Arranjei uma forma de expressar e de exteriorizar o que fui vivendo e sentindo ao longo da semana.