A. Instrução recebida da Maria Inês Graça
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Desenha-te no espelho
Desenha-te numa folha de papel
Desenha-te onde quiseres
E vais encontrar-te
Abre a boca
Bebe a chuva que cai
Hidrata-te, és uma flor
Para a prossecução das instruções, primeiro: desenhei-me em frente a um espelho; desenhei-me no espelho; desenhei-me numa folha de papel; desenhei-me onde quis; porém não me encontrei.
Insatisfeito, procurei encontrar-me abordando espaço físico visível do desenho através da marca projectada pelo contorno do que nos é visível do nosso próprio corpo. Criando uma noção do espaço quase real que ocupamos quando nos vêmos.
Antes de me perder, “desenhei-me em frente a um espelho” simulando um observador externo a mim. Neste processo tomei consciência do espaço visual que ocupamos e que me/nos é imperceptível, como que, se constantemente, estivéssemos apenas num plano bidimensional. Fascinou-me então a ideia de procurar projectar-me, no espaço tridimensional, a partir da meu ponto de vista real.
De imediato passei a abordar a projecção dos contornos do corpo sobre o suporte espelho – “desenhei-me no espelho” -, resultando assim numa tradução directa e objectiva dos contornos do meu corpo sobre este. De seguida explorei os contornos do corpo a partir da reflexão do espelho sobre o chão. Criando um mecanismo extensivo de desenho (uma vara com um carvão na ponta) consegui traduzir no chão o reflexo dos contornos do corpo.
Fascinado pela projecção do corpo sobre o espaço que ocupava traduzi os contornos do corpo directamente sobre o espaço (no momento apenas o plano chão estava disponível). Espaço esse que, dado o movimento natural da produção do desenho, constantemente projectava novos contornos. Quando dei por mim, procurava o limite do corpo através do limite físico - da capacidade - de projectar e desenhar essa projecção.
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A1 - procura dos limites do corpo a toda a torção possivel
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A3 - procura dos limites do corpo a toda a torção possível |
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B1 - procura dos limites do corpo à maior distancia do meio riscador
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C1 - procura dos limites do corpo em plano fixo |
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C2 - procura dos limites da mão em plano fixo |
Por fim, num dia de chuva, fui à rua, abri a boca bebi a chuva que caía e encontrei-me: sou uma flor.
B. Instruções dada à Maria Inês
2. Observa e colecta imagens alheias, movimentos e gestos. Traduz-los através da memória que ficaste deles. Faz um breve desenho diário no formato pré-concebido que disponibilizo.
[disponibilizei 6 folhas 12x12cm]