LIN
HA
Todos os dias, Lina arranjava-se primorosamente. Uma mulher simples, mas cuidada. Os seus olhos grandes eram a sua vaidade. Maquiava-os com um risco negro, que lhe sobressaia a profundidade do olhar. Lina fazia-o com o rigor de quem não quer passar despercebida, uma linha delicada que acompanhava a curvatura da pálpebra inferior.
Com o passar dos anos, a mão firme que traçava a linha dos olhos de Lina, perdeu força e precisão. Mas, o hábito manteve-se. O risco dos seus olhos, já não estava no sítio certo, descaiu para o contorno das olheiras. Na rua olhavam-na com estranheza. A linha dos olhos de Lina, que em tempos realçava a sua beleza, era hoje o motivo da sua decadência.
Ao ouvirem este relato várias pessoas da sua rua passaram a desenhar linhas em diferentes sítios da cara. Assim, Lina deixou de ser um caso estranho e tornou-se mais uma entre tantos.