Exercício 1
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Coçar (+ esfregar)
O coçar do pescoço no meu dia-a-dia acontece com mais frequência em altura de stress mais elevado e muitas vezes gera feridas que sei que muitas vezes estão lá, mas que faço de conta que elas não existem pois eu não as consigo ver. Ao longo do tempo tenho arranjado até forma de esconder os vestígios do coçar ao deixar crescer o meu cabelo, usando chapéus, ou até mesmo coçando mais acima na zona do cabelo para as pessoas não notarem tanto. Tem sido uma auto-defesa que me tem sido difícil ultrapassar mas nunca neguei.
De forma a simular o coçar "invisível" tomei a decisão em utilizar a cola de tubo para replicar o movimento que fazia com os dedos ao coçar a pele. De seguida, parti giz colorido em pedacinhos que criou pó em cima da cola e aí então apliquei a ação do esfregar para aparecer as consequências do primeiro ato, e este segundo verbo que também está incluído no coçar do pescoço, pois muitas das vezes após o coçar, esfrego a pele para a aliviar, sabendo que o esfregar não causa tanto dano.
Ação do esfregar
Este conjunto de ações, inicialmente, foram feitos na superfície da mesa, o que não replicava a ação do coçar do pescoço na sua forma verdadeira, uma chamada de atenção que me foi feita pelo Professor Paulo, e que me fez alterar a criação dos desenhos para o meu próprio pescoço.
Desenhos resultantes do ato performativo
Foram criadas várias representações através destas ações, e criou-se variação da cor em cada uma delas. Foi ainda engraçado de se ver o giz que se reteve nos meus dedos como se me recordasse da própria ação na qual o ato performativo estava baseado, fazendo-me repensar e rever o meu hábito sem me afastar dele, sem ter vergonha dele. O exercício em si empurrou-me para uma zona de desconforto de forma a encarar-me a mim própria à medida que criava estas representações através do gesto.
Exercício 2
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Massajar | Limpar
Ainda afectada pelas emoções resultantes do primeiro exercício, o segundo exercício foi-me mais complicado enfrentar, não só porque as ações em mente relacionavam-se com o primeiro no sentido mais profundo como também expunha algo pessoal para uma audiência, um público. Considerando o facto de eu não ser uma pessoa de chamar atenções ou de me sentir à vontade em palco, este exercício foi mais desafiador mas uma atividade que sinto necessária. Estou sempre aberta a novas experiências, tanto para conhecer mais sobre arte e a mim própria e o desconforto é algo que reconheço como um passo importante na descoberta.
Neste segundo exercício era requerido uma junção de ações distintas e eu escolhi os verbos massajar e limpar. A transferência em si não me foi difícil de atuar, pois eu fiz a ligação da massagem que a minha mãe ensinou e o limpar que ela muito fazia. Entrando no momento do ato performativo entrei como se em transe e a transferência de um ato noutro contexto não se sinto, de forma alguma, estranha. A minha mente deslocava-se para momentos de aplicação de ambos os atos e senti-me quase como se estivesse numa zona de conforto, a qual o ato performativo o permitiu.
Foi através desta exploração e esta conjunção de ações que me fez perceber a importância do ato performativo e a sua magia em narrar algo que me era pessoal. A experiência em si colocou-me numa zona de conforto para eu encontrar o meu conforto, e isso facilitou depois o próximo exercício.
Exercício 3
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Cortar - Aperfeiçoar
Por fim, sentindo-me liberta do último exercício, escolhi o verbo cortar para representar outra sombra que me segue com frequência - o perfeccionismo. O ato de cortar, no contexto artístico, pode servir para cortar partes desnecessárias, para separar ou melhorar certas formas. Com a tesoura em mão, dirigi-me para o jardim para recortar a relva que não era uniforme, nem de comprimento. Como se a relva tivesse o seu próprio defeito e com o olhar crítico, corta-se aquilo que não é bonito ou que estraga a imagem. Já essa forma de pensar leva a muitos outros pensamentos mas ao cortar, afastar e analisar o que está mal ainda e voltar a cortar, mais uma vez forçava uma deslocação mental sobre como certas coisas são vistas na minha mente e como o ato performativo traz para fora um forma de ser que me confronto e questiono.