26.12.22

desenho, instrução e performance, inês soares


#1 instrução para desenho
("o murmúrio do vento")


#2 instrução para ação

Acima, as instruções que concebi para outro colega. Pretendi que se complementassem e constituíssem uma única peça, desdobrada em dois momentos/ações/registos. A anulação de um verbo na instrução foi intencional, no sentido de manter a sua interpretação e poética o mais abertas possível. 

De seguida, as respostas às instruções que recebi: 


#3 instrução para desenho

A primeira instrução consistia em desenhar várias pedras até criar um monte, tentando deixá-las voltadas para cima. O próprio enunciado também sugeria uma ação para além do registo em desenho, pelo que optei por gravar essa ação. Apercebi-me então que poderia estar perante uma situação interdependente: a realização dos desenhos e tudo o que isso constitui - atenção, capacidade de síntese, tempo de espera, ritmo, etc - é enaltecida pelo ato performativo, e vice-versa; a ação encenada depende do tempo, das variações e dinâmicas do desenho para ganhar relevância. 


#4 instrução para ação


#5 instrução para ação

"Quando acordares, abre a persiana do teu quarto/ Observa a paisagem, durante um momento. / Fecha a persiana. / Escreve as primeiras três palavras do que a paisagem te fez sentir. (#4) / Volta a abrir a persiana. / Vê a primeira coisa que modificou na paisagem. / Escreve um pequeno texto subjetivo, em que descrevas de que maneira essa coisa atua ou interfere na paisagem. (#5)

Curiosamente, a instrução para a ação já não foi registada com recurso a outro meio fotográfico ou videográfico. Em vez disso, o papel onde apontei as palavras (frente) e escrevi o texto subjetivo (verso) revela, já por si, singularidades das ações executadas: seja no peso do registo e desequilíbrio das letras, nos vincos do papel, nas hesitações reveladas pelo rasurado, ou na própria sugestão das palavras. Decidi não simular nenhuma ação e abrir espaço a que um simples registo num pedaço de papel evocasse as suas próprias narrativas.