1.11.14

Tiago Madaleno





(3)
Através de uma mesma ação, apagar e iluminar, desvendar e obscurecer, efeitos contrários com fundamento no mesmo ser. Como na fábula de Esopo: com o bafo aquecer-se, com o sopro arrefecer-se.” (retirado de “Jorge Martins”, de Maria Filomena Molder, pág. 43)

A ideia para este exercício consistia na transferência do gesto apagar para um espaço pouco iluminado. Utilizando uma borracha, a ação deveria ao mesmo tempo que limpava uma área do chão, riscar a forma de um quadrado (iluminar um quadrado no espaço. Apagar para aumentar o brilho de um espaço). Simultaneamente, utilizando o material resultante do processo de limpeza, o lixo da borracha e do espaço, construir um duplo quadrado que faria o inverso do primeiro (existiria pela consciência da matéria, pela definição do contorno provocado pela sombra). A ação duraria o tempo do material. Até ao fim da borracha.
Jogar com os múltiplos significados da ação apagar (extinguir, diminuir, riscar, suprimir, limpar,…).
A utilização da borracha como instrumento de limpeza permite jogar com uma certa inutilidade da ação, pois apesar das intenções vai acabar por ocupar mais o espaço/sujar mais o espaço com a sua presença material. Ao mesmo tempo poder pensar num regime autossustentável: o quadrado que é apagado no espaço com a borracha permitirá o aparecimento do outro quadrado pela matéria.





(2)
Utilizar um mecanismo que permita através do envolvimento do corpo perceber como se desenvolve o crescimento de uma planta. Concentração de dois gestos (soprar/respirar – nascer/crescer)
A utilização da caixa com o mecanismo para o fazer da ação determina o jogo paradoxal associado ao gesto: por um lado um gesto de dádiva (dar vida a …), de tentativa de comunhão com o natural, o orgânico; por outro lado o que permite a produção de tal gesto é um sistema de roldanas que posiciona o carreiro de sopro no local apropriado. As possibilidades infinitas do disparo (do sopro) dentro dos limites da caixa são determinadas pela estrutura mecânica. 
Jogar com um conteúdo simbólico associado à utilização de determinado material: tinta-da-china pela associação direta a algumas ideias da pintura oriental (simbiose do corpo com a natureza pelo gesto); utilização da cor branca - faz sentido por uma associação à luz (encontrando pontos de ligação com o estudo em desenvolvimento do crescimento e comportamento de um girassol).
O gesto invade um território acima da linha do horizonte: ele desenvolve-se debaixo para cima, definindo uma dinâmica de crescimento que invade o espaço. Apesar da folha de papel onde se regista a projeção da tinta poder ser tida como a área que recebe o disparo, há uma relação com todo o objeto caixa que determina a dinâmica do gesto. Começa da boca, para o carreiro, para o papel. 




(1)
Utilizar sabão para ensaboar/varrer (limpar) a sujidade dos cantos da folha. Tentar tirar partido da repetição de um gesto que ao mesmo tempo que procura executar uma tarefa de limpeza, acaba contribuindo para o aparecimento da sujidade na folha. Com o gesto permitir o aparecimento de matéria (pequenas acumulações de sabão, desgaste do papel pela fricção do gesto ou pelo contacto com a água) que vai sendo encaminhada para os cantos - simulando o gesto de limpeza de uma sala por exemplo. 
A folha onde a ação se realiza deve ser amarela. Não só pela associação da cor à sujidade (dentes amarelos = dentes sujos) impondo assim uma necessidade para a ação, como por questões práticas: alguma coloração do sabão deixaria de ser visível, só se destacando a brancura da espuma. O tamanho reduzido da folha procurava dar ênfase à repetição do gesto, à focagem do mesmo numa área diminuta. 
O pincel, objeto utilizado para a realização da tarefa, remete para o gesto do varrer, escovar (chão) e ao mesmo tempo permite uma manuseamento mais eficaz com o material impedindo que a gordura do sabão ou o “lixo” do papel fiquem agarrados às mãos por exemplo.