1.11.14

Lídia Ramos





A primeira etapa delineada passou por cobrir duas folhas brancas (suporte de desenho) de tamanho A3 com cola branca. De seguida foi soprado “pigmento” para as mesmas. O “pigmento” utilizado foi, neste contexto, composto por especiarias (especificamente açafrão) por forma a conferir cor ao trabalho e, simultaneamente, criar uma alusão para o ato de soprar algo no corpo ou o simples expirar. Desta forma, procurou-se desenvolver uma ação do corpo no suporte de desenho. O processo descrito foi replicado (duas folhas), por forma a “guardar” fisicamente o resultado desta primeira etapa.



Então, e em continuidade com a ação narrada atrás, lavou-se com água corrente uma das folhas resultantes, com o intuito de conseguir uma transferência entre as ações “soprar/expirar” e a “lavar”, relativas ao corpo. Assim, aplicou-se no espaço escolhido, o lavatório da casa de banho, a ação de lavar, a folha com cola branca e especiarias, “pintada” na primeira etapa desta performance. Para tal, efetuou-se a ação lavando repetidamente a folha de modo a se conseguir remover a “pintura”, numa analogia com a lavagem do corpo, purificação, limpeza.




Com o propósito de direcionar o ato conotado com os meios do desenho para o espaço físico “criado” atrás, o ralo do lavatório foi anteriormente tapado, retendo os depósitos da folha lavada conforme descrito. Estes, constituem assim, o resultado desta terceira ação, que mais uma vez fez parte do processo contínuo iniciado com a aplicação de cola branca na folha e posterior sopro das especiarias. A adoção por especiarias em detrimento de “real” pigmento prendeu-se com a sua maior existência no quotidiano do que a “tinta”.
Por fim, a abertura do ralo conseguiu tanto a limpeza do espaço quanto uma alusão à dissolução de cor que se verifica no processo natural a que exponho os trabalhos que desenvolvo, no exterior.