10.2.15

Ana Margarida Sousa_ Trabalho Final

















A bandeira vive e morre, ressuscita, traz o luto, é ferida, é recosida, é ostentada, é saudada, é abraçada. Há quem se cubra com ela, quem se deite sobre ela, quem morra por ela, depois é dobrada, arrumada, aprisionada, santificada, esquecida. 
PASTOUREAU, Michel - Dicionário das cores do nosso tempo, p.123.

A presente acção teve como objectivo criar uma relação com o projecto em fase de desenvolvimento da unidade curricular de atelier/oficina que visa reportar graficamente um naufrágio ocorrido a 29 de Janeiro de 1975 na entrada do Porto de Leixões. 
Partindo da bandeira e da cor vermelha pelos seus significados associados à memória, fogo e sangue foi feita uma apropriação do espaço do acontecimento - a praia de Matosinhos, enquanto local de homenagem e de ritual. A bandeira é um sistema emblemático, refere-se à semiologia e a antropologia, é oficial e sacralizada, nunca é neutra e muda, nasceram do sangue e de rituais militares ou nacionalistas. É um símbolo nacional, tem apropriações partidárias com factos políticos, ideológicos e sociais, como também, é um importante documento histórico - um tecido que flutua com o vento e que produz efeitos para serem vistos ao longe, passa de objecto físico a imagem conceptual que, simboliza o poder. 
A cor simboliza a cultura e a época, remete-nos para a memória, na qual uma bandeira nunca existe isoladamente, mas sim num sistema intencional de imagens emblemáticas de ordem semiológica (de signo). O vermelho, a cor usada no tecido da acção,  é uma cor arquitípica, simboliza sangue, fogo, dá vida, purifica e santifica. Simboliza força, energia como também, mancha e morte, é uma cor que brilha, aquece e ilumina. É um sinal de perigo - a bandeira vermelha assinala um perigo, manda a multidão dispersar e, foi agitada em função do vento (do norte) e, na relação com o mar e com os navios a chegar ao porto. A cor vermelha é, também,de sangue - o sangue derramado; a  cor de fogo- explosão e de bombeiros; é a cor da matéria e do materialismo em que a sua presença é forte, próxima e de peso. O que é vermelho está aqui e não ao longe. O tecido vermelho é um objeto que remete-nos para imagem de bandeira (identidade), e a imagem remete-nos para o símbolo de alarme e de sangue (perigo).
O desenho surge como um «testemunho», reporta e documenta o que aconteceu. é um arquivo, foram realizados antes(enquanto hipóteses e especulações); e após o acontecimento enquanto um modelo para a representação do performativo, 
para conceber um sistema de notação para a representação da acção através do modelo das Transcrições de Bernard Tschumi pela sobreposição entre a cartografia e a coreografia; a representação do performativo e a notação do movimento; o espaço como evento. A função coreográfica conserva e transmite o movimento e a acção do corpo no espaço e na duração do evento. Entender o espaço pela acção e, entender a acção pelo espaço. É um objecto pictórico que resulta como um processo simbólico que serve para reconstruir um evento que ocorreu.
A fotografia surge por fim como um objecto, deste modo, a performance na categoria de documento, assume uma existência dupla - a de ‘moldura’ e que é apresentada e tem uma audiência e, a de arquivo documental pessoal e de trabalho, também (re)afirma a acção, é um testemunho, o exercício daqueles que não têm voz, a versão do traço em que o espaço da performance é o espaço da documentação.