12.10.15

Cláudia Mateus

Ao escolher uma acção que o corpo executa sobre si mesmo com objectivo de a deslocar para um processo de desenho, transpirar pareceu-me curioso pelo facto de ser um processo em que o corpo liberta um liquido ao longo da superfície da pele e que produz algum tipo de padrão físico, mas que é praticamente invisível. Este padrão manteria-se presente mesmo depois da evaporação da água (a pele "secar"), devido ao depósito na pele dos sais e das gorduras que constituem o suor. Estas marcas que não se vêm são o resultado de uma acção, de todo o seu processo: começaria pelo surgimento de micro-gotículas na superfície da pele, que quando em contacto com outras formam gotas maiores, depois pequenos “canais” de ligação entre elas, até que se juntam em gotas demasiado pesadas para não escorregarem ao longo da superfície por força da gravidade. Pareceu-me que todo este processo ficasse perdido. Salpicar tinta-da-china com diferentes graus de diluição (como forma de representar diferentes graus de concentração dos sais dissolvidos na água do suor) com uma escova de dentes, pareceu-me uma boa forma de expressar o comportamento do suor na superfície da pele, enquanto se transformava num processo de desenho. Ao mesmo tempo, o salpicar da escova pode “imitar” a expulsão do suor pelo corpo, tal como a tinta que é expulsa também pela escova.



Para o segundo exercício usei a mesma acção, transpirar, como uma metáfora para o orvalho: o transpirar da atmosfera na manhã, quando o ar se encontra demasiado saturado em água, criando sobre a superfície das plantas, pedras e outros objectos pequenas gotas de agua. Tentei recriar o surgimento desse orvalho pondo pequenas gotas de águas sobre uma folha, com uma palhinha.


O terceiro exercício tinha como objectivo transpor um acto conotado como desenho para um espaço físico fora do papel. Seguindo uma espécie de “utilizar uma realidade familiar para compreender uma realidade desconhecida” a partir do primeiro exercício, em que vi o comportamento de múltiplas pequeninas gotas de tinta sobre uma superfície inclinada e mais ou menos impermeável, decidi usar o corpo como espaço, utilizando o salpicar de tinta sobre a pele, para entender que padrão esta formaria sobre o corpo, e desta forma, entender o comportamento do suor.