12.10.15

Clara Buser

1|

| Verbo: Cantar |

Eu canto e a mão acompanha.
Notas longas e curtas, sobe e desce conforme passeio entre notas agudas, médias e graves, acelera e abranda o ritmo, respira e continua.
Aperfeiçoamento implica repetição.
Escolhi um excerto de um tema de Jazz “Detour Ahead”.
“Smooth Road, clear day, but why am I the only one traveling this way, how strange the road to love...”
Canto-o em tempo rubato que é o cantar livremente oscilando no tempo, é um cantar flutuante, rouba tempo que depois acrescenta.
Repito o excerto as vezes necessárias e registo cada repetição, uma por baixo da outra e vejo as nuances que cada uma tem. Cada uma é diferente, a cada uma respiro mais ou menos tempo, prolongo mais ou menos algumas notas. Cada repetição é única sendo sempre a mesma.





2 |


| Tocar piano | Tocar no braço |

Tocar no braço como toco no piano, sentir o movimento dos dedos, sentir o desenho que fazem.
Transferir o ato mecânico de fazer escalas e arpejos para a pele, em vez de ser o  corpo que transfere o movimento para algo fora de si, aqui transfere para si próprio.
Descontextualizo o ato e desta forma encontro-lhe uma nova consciência.




3|

| Apagar |

Encontro uma superfície de cimento coberta de terra e no impulso de afastar a terra, limpar, abrir espaço acabo por definir uma forma, um desenho em negativo.




| Contornar |

Encontro um pano dobrado no chão e sigo o impulso de contornar esse pano, como marca do posicionamento de um objeto naquele espaço. Quando retiro o pano, retiro o elemento que dava o significado primordial à imagem e passo a ter uma forma que abre caminho a outros significados completamente diferentes.




| Ponto |

Encontro sacos de plástico pretos que cobrem parte da vegetação de uma horta e algo me remete para o desenho picotado que fiz na escola primária. Timidamente liberto um impulso de memória infantil e perfuro esta cobertura.