12.10.15

Inês Martins

1 Vincar - O verbo é utilizado neste exercício como um acto de pronunciar de forma sistemática marcas já existentes trazidas pelo tempo. 
Tendo por hábito apanhar e colecionar diferentes tipos de papel de diferentes momentos, viagens e lugares por onde passei, encontrei esta folha dobrada de modo expontâneo no meio dos meus cadernos. Com o auxilio de um osso, objecto que utilizo para vincar as folhas de papel nas encadernações de livros, voltei a reforçar essas marcas já existentes na folha num acto de afirmação com tinta preta. Tornar o que o tempo me deu um dia, agora num gesto intencionado de marcar o presente.
O resultado torna-se inesperado ao desdobrar e descobrir o desenho que esses vincos desenharam por si só na folha de papel. Torna-se assim o objecto alvo de uma leitura cronológica.




2 De forma a transferir uma acção, um gesto, neste caso o acto de dobragem, pensei de que outra forma poderia relacionar este acto a outro de uma outra area distinta.
A natureza, especialmente flores, foram desde sempre um interesse de sensações não só visuais mas olfativas e especialmente tactivas. Num espaço restrito entre a sala de aula e o jardim encontro nas folhas das árvores uma relação de um conjunto de factores num acto que é tao prazeroso para mim. Colecionar, guardar, proteger, analisar informação valiosa sobre a forma de um livro num acto de encadernação.



3 Num processo de inter-relação e experimentação entre actos e formas, encontro vínculos entre ideias de campos que diria normalmente distintos. Como que num acto de brincadeira, a dobragem das folhas das árvores como de papel se tratasse leva-me a observar o comportamento de diferentes materiais e formas que deles resulta. Foi aqui que linhas sugestivas que lembram padrões origami começam a emergir, e um avião surge de uma folha de árvore. É num sopro meu disfuncional que ele voa e cai, voa e volta a cair, até não restar mais do que pedaços de folhas soltas espalhadas no chão.