12.10.15

Pedro Cunha

Pedro Cunha

I  – Acariciar
Derivado da total ausência de ideias daquilo que deveria realizar decidi iniciar o exercício por colocar uma folha branca (sendo esta de certo modo a base para qualquer desenho) no tampo da mesa. Com a folha à minha frente de imediato me apercebi que perante tal objecto repito constantemente a mesma pequena acção – a acção de passar consecutivamente a parte de trás da mão pela folha com o intuito de a limpar, de a alizar, de a sentir, de a proteger, etc. Constatei que este gesto tem um paralelo formal e conceptual com o gesto de acariciar. A preocupação pela preservação da limpeza da folha, a preocupação com a sua protecção contra todas a impurezas que a possam sujar, o cuidado com que, levemente, são “varridas” da folha as impurezas, criam aqui uma aproximação ao acto que acariciar – um gesto que pretende demonstrar carinho, protecção, cuidado, afeição, preocupação por alguém. Um gesto que geralmente não deixa marcas físicas (que neste exercício foram tentadas reproduzir), mas que muito certamente deixa marcas profundas em ambos os intervenientes.
O exercício centrou-se fundamentalmente no acariciar exaustivamente a folha de papel, acariciar do mesmo modo que se acaricia um rosto, um animal ou um bem demasiado precioso. Estas “caricias” eram feitas com as mãos “sujas” de pó de carvão - é curioso realçar a contradição da sujidade que se ia acumulando na folha com o desejo de limpeza de onde surgiu a primeira acção. 

II  – Acariciar/Lavrar
Neste segundo exercício decidi deslocar a acção de acariciar para um “suporte”, por assim dizer, que não sofresse tantas marcas com a insistência e repetição do gesto em questão e que ao mesmo tempo pudesse transportar o verbo acariciar para novas conexões e significados. A terra (um meio com inúmeras recordações infantis) demonstrou-se um suporte amplo na qual poderia criar um interessante paralelo entre a acção de acariciar e muitas outras relacionadas com este meio.

Iniciei o exercício sem qualquer ideia de que acção, para além de acariciar, estaria envolvida naquele pequeno acto de mexer suave e cuidadosamente na terra. Lavrar, ou remexer, ou revolver, ou cultivar, etc foram as acções que me surgiram perante o cenário que fui mentalmente criando. O gesto de acariciar pouco tem de semelhante com o de lavrar, mas quando o primeiro é feito na terra as diferenças parecem-se esfumar e as duas acções aproximam-se. As marcas produzidas, o cuidado com que são feitas, a lentidão da sua produção, a recordação infantil, os conceitos de “mãe” e “mãe-Natureza”, etc - apos ter iniciado o exercício estes paradigmas começaram a conectar as duas acções.  

III – Linear/Marcar/Contornar
Neste terceiro exercício, ao contrário do que havia ocorrido nos anteriores, comecei já com a ideia concreta e construída daquilo que pretendia fazer. Com recursos pertencentes ao domínio da disciplina do Desenho decidi linear/contornar as marcas quem podem ter sido deixadas no meu corpo pela acções anteriores – acariciar e lavrar.