Como
instrução para a realização de uma acção e de um desenho pensei em integrar a
pessoa que as iria receber no contexto de pensamentos que tenho tido acerca do meu
trabalho de atelier. Funcionaria não só para entender até que ponto
(considerações e pensamentos meus) poderiam transgredir esta barreira pessoal e
chegar a outro, como para ver de que maneira estas poderiam levar a outra
pessoa a “sair fora” também, mudar algo na sua rotina normal de acções, sentir/ver/pensar
algo diferente do quotidiano; e por isso também, ser para mim outro ponto de
vista de ver aquilo que eu penso ou imagino. Tentei fazer as instruções de
forma a tentar transportar o executante para o meu campo de pensamentos/ideias...
porque sabia que poderia não fazer qualquer sentido para ele. No entanto, as
minhas expectativas foram superadas e a dedicação e empenho da Maria a tentar “sentir”
e cumprir as instruções dadas foi muito grande. Devido a uma dificuldade exterior
(falta de vento) a instrução para a realização da acção foi adaptada mas,
apesar desta nova se tratar apenas de outra tentativa para sentir o ar e as
suas forças, resultou, por puro acaso, na formação de sombras em que poderíamos
identificar, facilmente, a forma de uma ave em pleno voo. Este imprevisto resultou
muito curioso para mim.
As instruções
da Maria foram muito interessantes para mim. As duas trataram-se de coisas que
nunca tinha pensado realizar e que me fizeram ter reflexões diferentes, através
de simples acções. A instrução da acção deixou-me a pensar como a busca de certos conhecimentos numa espécie de
mapa de conexões de informação sem fim, mas de certa forma interligada em
certos pontos, pode criar todo um sentido de informação, e que me parece, que
de alguma forma, vai depender de nós; fez-me também pensar que o próprio acto de
copiar um texto, ao criar um discurso de certa forma estranho, nos faz ganhar
sentido e ordem para nós, mentalmente. A realização dos desenhos fez-me pensar
numa questão que já tinha reflectido antes (a representação do movimento) mas
de forma diferente, sem ver o movimento que se pretende desenhar (apenas
sentindo) e com a grande hipótese de
formas que temos de o representar (representando mais o que se sente, ou
indicando/explicando mais o que está a acontecer, ...).