29.11.15

Pedro Cunha


Instruções realizadas por Mariana Sales Teixeira.


1)        Instrução o para realização de um desenho, ou uma série de desenhos (a ser realizada durante a semana após o seminário);

1-        Deita-te na cama ou num jardim, um sítio calmo.
2-        Pega nos teus materiais de desenho.
3-        Fecha os olhos.
4-        Por fim, desenha o que vês com os olhos fechados.


I instrução


Mariana Sales Teixeira - caneta s/ papel


Esta instrução apenas pretendia que o instruído desenhasse sem o auxílio da visão, sem ter de corresponder o desenho com um objecto real e visível. Apenas era pedido que fosse desenhado o que se vê de olhos fechados, isto é, aquilo que normalmente não se vê, aquilo que está, geralmente, escondido num desenho de representação tradicional, aquilo que tendemos a ter medo de representar ou quando representado deitamos fora.
O que não se vê pode ser tudo, o negro de ter os olhos fechados manchados pelas luzes brancas e pela estranheza de olharmos para a profundidade do vazio, os sonhos que surgem mesmo acordados, as memórias que renascem sob a tela preta do interior das pálpebras, as palavras que nos surgem faladas e escritas, as pessoas, as preocupações, o bater do coração, o som do sangue a correr nos ouvidos, as nuvens a misturarem-se, etc.
Não interessava a “correcção” do desenho apenas interessava a liberdade e descarga explosiva ou não do desenhador.
Desenhar com a preocupação de uma criança.  



2)        Instrução para a realização de outra acção (que não um desenho), a ser executada no espaço da faculdade, durante o seminário.







1-        Pega numa folha e amassa-a como se ‘tivesses zangado.
2-        Alisa a folha como se ‘tivesses arrependido.
3-        Volta a amassar a folha.
4-        Repete tudo até a folha desaparecer.

Nesta segunda instrução era pretendido que o instruído conseguisse fazer desaparecer uma folha de papel.
Este segundo momento está de algum modo relacionado com o primeiro. A folha deveria ser amarrotada com violência como se tivéssemos zangados e posteriormente alisada como se tivéssemos arrependidos. Esta acção parece-me ser algo impossível. Apesar da folha se ir desintegrando ela não desaparece por completo.
Este ódio com que se amarrota um desenho e o arrependimento com que o voltamos a abrir demonstra a relação antagónica que muitas vezes desenvolvemos com o nosso proprio trabalho.