Instruções realizadas por Mariana
Sales Teixeira.
1)
Instrução o para realização de um desenho, ou
uma série de desenhos (a ser realizada durante a semana após o seminário);
1-
Deita-te na cama ou num jardim, um sítio calmo.
2-
Pega nos teus materiais de desenho.
3-
Fecha os olhos.
4-
Por fim, desenha o que vês com os olhos
fechados.
I instrução |
Mariana Sales Teixeira - caneta s/ papel |
Esta instrução apenas pretendia
que o instruído desenhasse sem o auxílio da visão, sem ter de corresponder o
desenho com um objecto real e visível. Apenas era pedido que fosse desenhado o
que se vê de olhos fechados, isto é, aquilo que normalmente não se vê, aquilo
que está, geralmente, escondido num desenho de representação tradicional,
aquilo que tendemos a ter medo de representar ou quando representado deitamos fora.
O que não se vê pode ser tudo, o
negro de ter os olhos fechados manchados pelas luzes brancas e pela estranheza
de olharmos para a profundidade do vazio, os sonhos que surgem mesmo acordados,
as memórias que renascem sob a tela preta do interior das pálpebras, as
palavras que nos surgem faladas e escritas, as pessoas, as preocupações, o
bater do coração, o som do sangue a correr nos ouvidos, as nuvens a
misturarem-se, etc.
Não interessava a “correcção” do
desenho apenas interessava a liberdade e descarga explosiva ou não do desenhador.
Desenhar com a preocupação de
uma criança.
2)
Instrução para a realização de outra acção (que
não um desenho), a ser executada no espaço da faculdade, durante o seminário.
1-
Pega numa folha e amassa-a como se ‘tivesses
zangado.
2-
Alisa a folha como se ‘tivesses arrependido.
3-
Volta a amassar a folha.
4-
Repete tudo até a folha desaparecer.
Nesta segunda instrução era pretendido
que o instruído conseguisse fazer desaparecer uma folha de papel.
Este segundo momento está de
algum modo relacionado com o primeiro. A folha deveria ser amarrotada com violência
como se tivéssemos zangados e posteriormente alisada como se tivéssemos arrependidos.
Esta acção parece-me ser algo impossível. Apesar da folha se ir desintegrando
ela não desaparece por completo.
Este ódio com que se amarrota um
desenho e o arrependimento com que o voltamos a abrir demonstra a relação antagónica
que muitas vezes desenvolvemos com o nosso proprio trabalho.