29.11.15

Talita Nozomi

Exercício realizado por Tania Sophie Freitas
(1) Instrução para realização de um desenho, ou uma série de desenhos.


“The thing to see is…
Instructions always take the form of language: this is a given. The language may change or undergo translation: most of Ono’s were originally in Japanese, just as Orders & Co. was originally in Spanish. But instructions require the determinancy of language, both its denotative potential and its imperative mode. Instruction pieces were, unsurprinsingly, among the most purely linguistic works of conceptual art” (SPERLINGER, 2005, p.13).


1 | buraco


Pegue:

  • folhas de papel sem pauta e com alguma transparência.
  • três tons de uma mesma cor  a sua escolha.
  • Agora saia a procura de pequenos buracos, e desenhe em tamanho real.
  • Depois coloque os  buracos uns sobre os outros em ordem cronológica que desenhou. No topo o mais recente.


O texto que se segue é uma pequena reflexão que a Tania Sophie Freitas fez sobre o processo e exercício:

"A instrução é completa e, sem dúvida, encaminhadora.
Se olhássemos apenas para a imagem das folhas de papel transparentes e a dos lápis, tendo como indícios de que deveríamos capturar BURACOS, sem que a forma destes fosse definida por outra imagem ou outro género de descrição,  certamente que o resultado que apresento aqui não seria o mesmo. No entanto, foi um buraco de porta que me foi apresentado, o de uma fechadura. Como tal, acabei por fixar me nessa imagem sem colocar a eventualidade de registar outros tipos de buracos, ...

Foi interessantes perceber que , no meu caso, em casa, ainda que tenha muita fechadura iguais, o tempo já fez da sua e nalgumas os parafusos mudaram de estrela para fenda, outras seguram-se a madeira por duas diferentes, ... nem todas são iguais. Há ainda uma certa recordação de Alice no país das maravilhas quando me perco tanto tempo na transferência destas formas. No episódio em que a pobre Alice não consegue passar pela Porta por ser muito grande, e não conseguir espreitar pelo buraco de modo a conhecer o que se encontra por detrás dela. "

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(2) Instrução para a realização de outra ação (que não um desenho).

Para o exercício Transfêrencia-Imagem-Acto, eu me inspirei  nas instruções da Yoko Ono do livro: Grapefruit. “Ono’s work looks relevant again in an art world currently preoccupied with utopias, because its political aspect is based on imaginative transformation. Wishing and hoping are the germinal forms of almost all of her instructions, in a way that cuts across their character as instructions- impossibility is often their precondition. (SPERLINGER, 2005, p.11)

2 | intersecção de cheiros

Pare.
Caminhe da onde se encontra até a horta mais próxima.
(No caso, na frente da porta da sala 205,
tem uma mapoteca e uma janela,
atrás da janela, tem uma horta)

Observe:
bolsos das calças, saia, casaco e blusa;
meias, calcinha, cueca e sutiã.

Agora,
guarde em todos os cantinhos
os aromas colhidos da horta.

Espere
10 minutos, e sinta como os aromas guardados
mudaram em contato com o seu corpol/roupa.

E desenhe
os nomes novos dos cheiros criados a partir da interação com você.

10.2015 primavera lá, outono aqui.




A Tania Sophie Freitas escreveu um pequeno texto durante os 10 minutos em que conviveu com “os cheiros”:

"Não sei se elas, as folhas, mudaram de odor ao contactar comigo mas eu certamente mudei.
Se tirar com alguma rapidez a minha  mão do bolso direito do casaco emanará, por segundos, um aroma à oregãos que facilmente recordaram o cheiros de petiscos e gastronomias italianas. Mas nem todo o meu corpo me relembra neste momento as saudades que tenho deste país, ... Sinto e confesso, com alguma alegria, que os meus pés que caminharão com folhas de hortelã não deixam pairar no ar o típico cheiro tosco e desagradável que denominamos de "cholé", ao contrário, sente-se um aroma fresco e agradável de hortelã-pimenta acabada de moer. Parece-me que, inevitavelmente, estes cheiros activam memórias de refeições ou confecção das mesmas, o que me leva a sentir uma certa nostalgia e saudade porque, o momento da refeição, é sempre um momento de vivências familiares, pelos menos nas minhas origens. E ninguém melhor que uma avó para nos preparar iguarias saborosas e cheirosas. Que saudades da minha."

SPERLINGER, Mike. (2005).”Order! Conceptual Art’s Imperatives”. In SPERLINGER, Mike (ed.) (2005). Afterthought: new writing on conceptual art. London: Rachmaninoff’s, pp. 1-26