29.11.15

Tatiana Móes


Alteridade
Exercício realizado por Jorge Lerkeira

(1) Instrução para realização de um desenho, ou uma série de desenhos
Para este exercício optei por uma instrução como uma banda desenhada onde a personagem sugere, ou ordena, uma ação a uma outra personagem que não está no campo de visão. Desta forma a instrução poderia ser lida apenas como uma história a ser imaginada ou como algo a ser seguido, se o leitor se refletisse no lugar do personagem não representado.

Vá até um lugar sossegado (se achar)
Deite-se confortavelmente (você pode colocar umas toalhas abaixo do ser corpo para acalmar a coluna)
Sinta seu corpo
Feche os olhos. Na verdade, feche os olhos desde o começo
Imagine qual parte do seu corpo não seria seu corpo, mas pertencente a uma alteridade
A proposta é você desenhar isso. Seu corpo transmutado

Neste caso, Jorge não enviou os desenhos. Neste ponto, lembro que nesta proposta artística há o risco de uma não-realização da instrução, a possibilidade de fracasso, que tanto pode ter sido por uma vontade contrária de realizar a ação proposta como por uma falha de comunicação. Sperlinger1 nos lembra que toda instrução é antes de nada uma atitude consentida, um pacto entre artista e público. 

(2) Instrução para a realização de outra ação (que não um desenho), a ser executada no espaço da faculdade, durante o seminário.
Para esta ação imaginei algo que fosse performático, mas não perdesse seu caráter contemplativo como a proposta de alguns dos processos de Yoko Ono. A estética da instrução seguiu uma proposta lúdica, como uma carta-convite e foi feita como um livro onde cada página seria uma frase da instrução as vezes seguida de um desenho ilustrativo, mas não protocolar no sentido de apresentar um modelo de ação. A instrução sugeria o seguinte:

Feche os olhos.

Respire lentamente.
Recorde-se qual foi seu encontro mais marcante com uma alteridade animal.
Agora lembre-se como você agiu em contato com essa alteridade.
(exemplo de um encontro comum com uma alteridade)
Repita os gestos realizados em contato com essa alteridade.
(exemplos de alteridade)


O encontro mais marcante de Jorge foi com uma cobra que ele matou a pauladas, embora ele desconfia-se tratar-se de uma espécie inofensiva. Confesso que esperava a descrição de um encontro mais afortunado. Entretanto a surpresa é um dos pontos do processo. Como afirma Sperlinger2, a instrução guarda em si a questão da plausibilidade. Depende do repertório e potencialidade de quem opera a ação.



1 Mike Sperlinger, Afterthought new writing on conpeptual art, p.25.

2 Mike Sperlinger, Afterthought new writing on conpeptual art, p.25.