29.11.15

Maria Catarina

Transferência Imagem_Acto


As instruções e os protocolos comunicados em imagem ou por escrito muitas vezes são um esclarecimento e planeamento mais privado do artista, um registo da Ideia, uma declaração de intenções; outras vezes, estes desenhos, imagens ou instruções escritas são em si mesmos obras, completas apenas com o contributo dos observadores/participantes.

O desenho funciona aqui como sugestão de procedimento, mais ou menos severo, um estímulo para a efectivação de determinada acção, desenho ou performance. O contributo do participante é então definitivo para a concretização efectiva da obra e, portanto, ele tem responsabilidade principal na significação da acção. A definição de quem é o autor e de qual é o papel do artista nestas circunstâncias, torna-se difusa (“a morte do autor” Roland Barthes). A prática de estúdio associada ao artista transformou-se, a arte como que se aproximou do observador provocando o seu envolvimento implicado.

Em muitas das obras referidas nas aulas, a instrução colocava sobretudo um desafio mental: algumas sugeriam apenas pensar em alguma coisa, outras eram fisicamente impossíveis de concretizar. A instituição destes protocolos são as Ideias “em potência” (Giorgio Agamben, Bartleby, A escrita da Potência) e têm a autoridade de ditar determinada reflexão ou acção, elas citam um espaço mental, não exigem necessariamente a sua dimensão material, concreta. 
“The 5th of November you will simulate normal walking but you will be counscious that for this day Orders & Co. have taken possession of every third step you take” (Orders & Co.)

Estes enunciados criam um hiato com o que é regular, com os comportamentos expectáveis e subvertem a nossa relação com o mundo (Geraldine Barlow). A criação deste distanciamento pode ser factor de eficácia, potencia um estado de alerta que possibilita o desenvolvimento de consciência sobre como podemos (de poder, ser possível, mais uma vez, a potência de ser) relacionar-nos com o mundo.


As instruções que criei e que a Cláudia executou foram (1) um género de inventário de movimentos possíveis da mão dentro de um bolso, e (2) a pesquisa intermitente da Internet guiada pelo critério de seguir em cada página o primeiro link que chamasse à atenção, sempre registando num software de escrita o que se lia até se seguir para outra página.








No primeiro exercício pretendeu-se provocar um desenho a partir de outro sentido que não a visão, ainda que a memória das formas seja difícil de ultrapassar; no segundo pretendeu-se discutir a forma interrompida e errante com que navegamos a Internet e o discurso que essa deambulação significa, o conceito de rede, e de que maneira esses conceitos estão implicados na forma como nos relacionamos.

A experiência das instruções que recebi prendeu-se sobretudo com a disponibilidade para me entregar de facto à sua execução como sugerido, as propostas prendiam-se sobretudo com a equação do que seria a experiência de voar.