21.12.15

Cláudia Mateus

A minha acção a ser documentada tratou-se de uma espécie de invasão de um viaduto, pelo uso do espaço para uma função em parte antagónica à razão pela qual aquele espaço existe. Tratando-se de uma ponte destinada à passagem de carros e pessoas, consiste num meio de circulação, continuação de uma rotina... e o que fiz foi usar o espaço como forma de abstracção, relaxamento e análise sensorial do que se sente em volta, em particular das correntes de vento, que nesse espaço se sentem de forma forte.

A principal documentação da acção consistiu em tentativas de desenhos, feitos nos dois lados da ponte (sentindo o vento em direcções opostas) do que seriam essas correntes sobre o corpo, em ligação directa da sensação do vento sobre a pele e o lápis sobre o papel, quase um índice indirecto ou uma comissura. Sobrepus esses desenhos às fotografias do que seria a minha visão quando fiz cada desenho, porque achei que melhor documentaria aquilo que a acção foi, uma vez que o documento irá sempre diferir, deslocar-se do que realmente aconteceu (Peggy Phellan). No entanto, creio que esta documentação foi parte intrínseca da performance: além do desenho ser possivelmente a única forma de representar movimentos que não são visíveis, e por isso quase impossíveis de captar por video ou fotografia, parte da experiência sensorial de sentir as correntes de vento existiu na necessidade da reprodução documental da acção (indo de encontro ao que defende Aushlander).

Os outros dois desenhos tratam-se de uma espécie de auto-narrativa diagramática, na tentativa de representar o espaço físico em que a acção aconteceu, o meu movimento ao longo da acção, e a acção em si (as três disjunções por detrás das transcrições de Bernard Tscumi).