1.12.15

Marta Rebelo

Transferência Imagem-Acto
Exercício realizado por José Gomes


A instrução foi, ao longo do tempo, utilizada por diversas vezes como um protocolo ou guia para a realização de obras pelo próprio artista. Helena Almeida, na série Drawing (with pigment) de 1995-9, demonstra, através do desenho, o planeamento presente nas suas obras. Mas a instrução também assume o estatuto de obra por si só, como por exemplo a série Instrutional Paintings de 1961-2 da Yoko Ono, onde o artista fornece instruções para serem realizadas por outra pessoa.


Apesar de uma instrução antecipar um “momento coercivo” 1, comporta também a possibilidade de interpretação e aleatoriedade devido à pessoa que a está a realizar. A pessoa que executa a instrução passa a ter um papel determinante nessa obra, dependendo dela a sua realização, este envolvimento externo faz com que o papel autoral se dilua2.
Pegar numa folha de acetato e segura-la contra uma janela. Decalcar o elemento mais próximo. Recolocar o acetato noutra janela e decalcar o elemento mais próximo. Repetir o procedimento até preencher a folha. Pode e deve haver sobreposição de linhas.






O decalque está fortemente presente no desenho. A janela enquadra o mundo exterior numa moldura. Ao decalcar através de uma janela criamos um desenho que já existe.








Segurar o livro cedido na vertical. Rodar o livro no sentido dos ponteiros do relógio até que este fique invertido. Proceder à leitura do livro.







Esta instrução demonstrou-se interessante no entendimento da importância do reconhecimento das letras e do contexto para uma leitura correta. Porque o contexto restringe o número de respostas razoáveis3, a sua inexistência, devido ao livro estar invertido, resulta numa leitura pausada e deficiente do texto.


1 Mike Sperlinger, Afterthought new writing on conceptual art, 2005
2 Roland Barthes, A morte do autor, 1968
3 Insup Taylor, M. Martin Taylor, The Psychology of Reading, 1983