22.12.15

Silvano Alves

Para este seminário, pretendia-se a escolha e reinvenção de um espaço da faculdade, ao nível das ações, funções ou fábulas que normalmente lhe são associadas, desabituando a relação que com ele mantêm. Num segundo momento, pretendia-se ainda a produção de um arquivo/documento (através da fotografia, desenho…) referente à ação realizada.    
Assim, a ação decorreu da seguinte forma: colocando-me frente a uma das estátuas do Pavilhão de Arquitetura da FBAUP, posiciono o espelho à altura da cabeça da figura humana que compõe a escultura de modo a que a sua face e o seu olhar sejam refletidas e haja, assim, um olhar ao espelho por parte da estátua.
Desta forma, proponho um desvio daquilo a que convencionalmente estamos habituados a fazer diante de uma estátua: contemplá-la. Pelo contrário, sugiro uma troca de papéis entre espectador e obra de arte: a estátua, cuja função é ser observada por nós, passa, ela própria, a ser observadora de si mesma (por intermédio do espelho que reflete a sua aparência). Com isto, cria-se um conflito, em que a estátua, tida aqui como um ser vivo, observa uma estátua (ela própria que, afinal de contas, é inanimada).
Neste seguimento, o material que resultou desta experiência traduziu-se, para além de fotografias, num conjunto de desenhos que seguem alguns dos ideais do Desenho Operativo de Bernard Tschumi. Mais especificamente, centrei-me na categoria do diagrama conceptual, em que perante o ambiente em que realizei a minha ação, procedi a um exercício de abstração, na tentativa de simplificar ao máximo, através do desenho, essa situação passada, uma vez que, para o autor a forma nunca é o objetivo deste tipo de desenho.

Como resultado, os desenhos que executei mostram, essencialmente, um grupo de figuras geométricas que representam os elementos intervenientes na ação que efetuei (eu de braços levantados, o espelho e a estátua) aqui apresentados nas vistas lateral e frontal.




ZEGHER, Catherine de; WIGLEY, Mark (2001). The Activist Drawing: Retracing Situationist Architectures from Constant's New Babylon to Beyond. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, pp. 135-137.