17.10.16

Ricardo Marques - Transferência de Uso


 Ricardo Marques

As atividades não tiveram uma correlação entre si, tratei como exercícios individuais de interpretação. Nestas atividades selecionei os verbos depilar, remover e cobrir.



Remoção (I)

Como se fosse um simulacro de máquina de cortar cabelos a caneta de tinta permanente substituiu sua função, com o objetivo de mapear os rastros de movimento tanto no suporte em papel quanto na superfície do corpo.
Na simulação dos gestos corporais e com a caneta voltada para um suporte em papel de encontro às minhas costas, os movimentos registraram no suporte de papel a imprecisão e dificuldades do objetivo de me auto-depilar.
Em uma segunda etapa, inverti os movimentos rabiscando as costas até a exaustão. A sensação do movimento ao comparar os resultados foi muito parecida, porém a dificuldade de preenchimento do todo na primeira parte do exercício ficou evidente.
A proposição de uma situação estranha ao ‘depilar’ as minhas próprias costas dificultava o acesso fácil dos movimentos para que conseguisse atingir toda a superfície e limitava o traço, ponto de partida e rastro.
Tentei ao longo do processo incorporar a ideia de remover algo que incomoda esteticamente, como se fosse tirar da pele algo que lá ficou não por vontade própria, porém de forma natural. A medida que o tempo passava a inquietação para que o processo (remover todos os pelos / preenchimento do todo) acabasse logo levou-me a acelerar a ação até o esgotamento físico completo.







Devolução (II)

Pensando no ato humano de remover da natureza sem um propósito definido, demarcando e descartando materiais, tentei contrapor tais situações com a manutenção e organização do espacial do ser humano.
Ao localizar duas partes de árvores retiradas, demarcadas com signos numéricos e descartadas sem um propósito definido, busquei reintegrá-las ao sistema natural. Reorganizando e devolvendo as mesmas ao seus espaços supostamente originais, uma vez que não servem mais para o propósito aos quais foram extraídas.
Este exercício apesar de simples, funciona como uma tentativa de correção e uma tentativa de desfazer algo que não pode ser desfeito nem refeito. Serve apenas como meus pêsames.





Situação de Desenho (III)


Como a escultura advém de uma atividade direta do desenho, busquei no campus e encontrei essas duas esculturas aparentemente iguais, onde vi a oportunidade de questionar situações pertinentes ao campo do desenho.
São cópias que possuem definições distintas de acabamento e precisão. Ao cobrimos a escultura mais bem acabada e esbelta, a repetição que nos leva a creditar melhorias técnicas, formais e representativas é relativizada pois não há objeto para comparação.
Partindo do pressuposto que não mais existe campo de análise comparativa estamos apagando qualquer questão subjetiva a refinamento, assim a peça descoberta se torna novamente mais atrativa. (1) A mangueira utilizada traz ao trabalho cor, contraste, abstração e contornos, situações que o desenho trata diretamente.

  1. Em um primeiro momento o objetivo era cobrir toda a escultura, porém não pude concluir o processo para registrar.