(1) instrução
para realização de um desenho: “Destrói o último desenho que fizeste e agora neste caderno de capa dourada, volta a refazê-lo todos os dias até o dia que te fartares dele e sentires a necessidade de o destruir."
(2) instrução
para a realização de outra ação (que não um desenho): “Durante 30 min, vais escolher o sítio mais confortável que conheces, vais te sentar-te e pensar realmente se estás no sítio certo e por que razão estás aqui, enquanto estás a comer uma maçã verde. No fim devolve- me as sementes da maçã.”
A partir das instruções que recebi:
“... no reconhecimento de que aquilo que é
dado ver não coincide com aquilo que queremos ver” (Peggy Phelan, A Ontologia
da Perfomance - Representação sem produção)
A expectativa, talvez, esteja próxima
daquilo que espero, que seja, que aconteça, de minhas pessoalidades
como resultado. A transferência de informação é o ponto de partida da
afetividade e do conhecimento cedido, reprodutível, para com o outro.
Por vontade própria? Por obrigação? O que me pertence?
Considero não possível a autonomia.
Tudo se dá por colaboração mutua. O desenho acontece por gestos imitativos, por recordações, pelas memórias. O futuro pode ser o passado. O instante já
passou.
Ser visível e transparente, ser abstrato e
opaco, é relativo. É interpretação! O que posso tentar é me esforçar o suficientemente a ser no
mínimo, em parte, compreendido/compreensivo. Por
isso, sim?, sim, quanto mais simples, mais puro.
(1) –
Não hesitei em destruir. Quando fui destruir... recortei em pedaços. Ainda
permanece. Queimar, seria um ato de destruir, com certeza! Mas não o fiz. Desenhei
intensamente por todo caderno as paisagens de uma viagem a partir do que se
transformou este primeiro desenho (cabelos de uma dama de costas): em recortes -
fragmentos de paisagens, inseridos neste mesmo caderno de frescas memórias. Foi
doado a quem pediu-me para destruir, a pertence agora. Não há contradição, ocorreu renovação.
(2) – Fui
a este espaço. Estava escuro, pouca luz. Refleti pouco, pois foi uma boa
oportunidade também para registrar as instruções por mim escritas. Foi
isso o que aconteceu e permaneceu. Não era previsto o que ocorreu. Se não fosse
por isso, não seria assim. Como seria?