1.12.16

Samuel Ornelas | Seminário 2: Transferência-Imagem-Acto

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(1)  instrução para realização de um desenho: Destrói o último desenho que fizeste e agora neste caderno de capa dourada, volta a refazê-lo todos os dias até o dia que te fartares dele e sentires a necessidade de o destruir."


(2)  instrução para a realização de outra ação (que não um desenho): Durante 30 min, vais escolher o sítio mais confortável que conheces, vais te sentar-te e pensar realmente se estás no sítio certo e por que razão estás aqui, enquanto estás a comer uma maçã verde. No fim devolve- me as sementes da maçã.



A partir das instruções que recebi:



“... no reconhecimento de que aquilo que é dado ver não coincide com aquilo que queremos ver” (Peggy Phelan, A Ontologia da Perfomance - Representação sem produção)



A expectativa, talvez, esteja próxima daquilo que espero, que seja, que aconteça, de minhas pessoalidades como resultado. A transferência de informação é o ponto de partida da afetividade e do conhecimento cedido, reprodutível, para com o outro. Por vontade própria? Por obrigação? O que me pertence?



Considero não possível a autonomia. Tudo se dá por colaboração mutua. O desenho acontece por gestos imitativos, por recordações, pelas memórias. O futuro pode ser o passado. O instante já passou.



Ser visível e transparente, ser abstrato e opaco, é relativo. É interpretação! O que posso tentar é me esforçar o suficientemente a ser no mínimo, em parte, compreendido/compreensivo. Por isso, sim?, sim, quanto mais simples, mais puro.



(1)  – Não hesitei em destruir. Quando fui destruir... recortei em pedaços. Ainda permanece. Queimar, seria um ato de destruir, com certeza! Mas não o fiz. Desenhei intensamente por todo caderno as paisagens de uma viagem a partir do que se transformou este primeiro desenho (cabelos de uma dama de costas): em recortes - fragmentos de paisagens, inseridos neste mesmo caderno de frescas memórias. Foi doado a quem pediu-me para destruir, a pertence agora. Não há contradição, ocorreu renovação.


(2)  – Fui a este espaço. Estava escuro, pouca luz. Refleti pouco, pois foi uma boa oportunidade também para registrar as instruções por mim escritas. Foi isso o que aconteceu e permaneceu. Não era previsto o que ocorreu. Se não fosse por isso, não seria assim. Como seria?


            Abaixo, ato-fotográfico de uma moça lendo cartas.