9.3.20

Transferência (e repetição) de uso


Abraçar é incentivar o outro e a ti próprio à proximidade. Transferência de ação para linguagem (Howell,1999)
do desenho. Ao rever o desenho sinto que o fiz a pensar como abraçar-me, mas lembro-me de pensar no
abraço e nos tempos dos diferentes abraços. Quando é alguém que eu conheço, quando é alguém que é
meu próximo, e no tempo que demoro a abraçar o abraço. Talvez possa explicar com outro desenho: o azul sou
eu e o castanho a outra pessoa. A primeira linha sou eu com uma pessoa que acabei de conhecer, sendo que a
segunda é um amigo. Ou uma transferência de regressão, uma viagem no tempo no tempo de um abraço. 
Com este desenho feito posteriormente procuro a reflexão sobre o comportamento restaurado , 3 vezes
“simbolizar e reflectir” sobre o acto de abraçar da “segunda vez até à milésima vez” (Schechner, 1985).
Envolvimento e memória de espião reservado à forma como me sinto em relação à motivação da execução do
primeiro desenho, em aula e performativo.
Abraçar, 2020 
    
Abraçar II, 2020


   
Duas acções: desço as escadas e assobio. Articulação das pernas e materialização de um som com a boca. “Linhas que escrevem o tempo” ou “linhas temporais” são “a variedade de linhas desenhadas que aparentam marcas feitas pela mão em extensão do corpo” (Petherbridge,2010). Imaginemos quatro líquidos: sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra. Os quatro humores segregados por quatro diferentes órgãos que constituem o corpo humano, segundo a teoria dos humores de Hipócrates. Se aleatoriamente a minha tinta da china era rosa, vou focar-me no sangue que é segregado pelo coração. Pretendo significar o assobio, a orientação e a perda do mesmo como um luto e melancolia (Freud, 1917). Andar e descer e; inspirar e expirar não como antónimos mas expressão de uma linha líquida na metafísica, marcar o tempo no limite de um degrau mas, não consigo assobiar com líquido na boca. Na minha segunda performance, a que não filmei mas os meus colegas viram, apenas deixo cair a tinta no papel, expirar a tinta líquida pode ser o mesmo que assobiar. 

Descer as escadas e assobiar, 2020
     
Fotografia de Descer as escadas e assobiar , 2020


         
Descer as escadas e assobiar II, 2020




Fotografia de Descer as escadas e assobiar II, 2020
Marcar o tempo pode ser o mesmo que pensar o ritual, transformar o luto em melancolia não é perder a acção,
mas transformá-la em diversos rituais/performances pela repetitividade do acto performativo.


Bibliografia
FREUD, Sigmund (1917). Luto e Melancolia 
HOWELL, Anthonhy (1999). The Analysis of Performance Art
PETHERBRIDGE, Deanna (2010). The Primacy of Drawing
SCHECHNER, Richard (1985). Between Theater Athropology