10.3.20

TRANFERÊNCIA-DE-USO | Manuel Duarte


O primeiro momento do workshop incidiu na transferência de uma ação do nosso dia-a-dia para o suporte de desenho. Segundo uma lista pré-realizada, onde constam ações corporais e de manutenção do lugar, selecionei o “arranjar” do cabelo como aquela que pretendia transpor. Através da grafite em pó, encontrei a possibilidade de espalhar (pasta de moldar), de avolumar (laca de cabelo), de vincar/moldar (escova) e de esticar/alisar (secador) o meu cabelo, ou seja, o meu suporte de desenho. 
Representei também toda irritabilidade que esta ação constante me transmite, sobretudo através do contacto das mãos e dos seus diversos e variados gestos com os fios de cabelo (folha). A ação resultante no desenho carece de uma forma de expressão nunca antes vivenciada, obtendo de forma gráfica e visual um fragmento de uma conduta diária.

Resultado Final_Momento1

Processo_Momento1

Seguidamente, o objetivo incide na exploração entre duas ações de campos performativos distintos, uma relacionada com a manutenção do corpo e a outra com a manutenção do espaço. Assim optei pelo ato de pestanejar e pelo ato de aquecer, respetivamente. De forma a culminar os dois e demonstrá-los em aula, procurei destacar aquilo que os caracterizava e os atos que lhes fossem sinonimamente igualitários. 

Pestanejar-Escuridão.                                   Aquecer-Superficie/Mãos. 

Em suma, trespassei para a superfície o ato momentâneo de a escurecer (tal como as pálpebras ao abrir e fechar) em simultâneo com o ato de aquecer a superfície como quando queremos aquecer as nossas mãos num ambiente frio. A ação é metaforicamente evidencia utilizando um meio para alcançar a semelhança, ou seja, a superfície de uma mesa, descontextualizando o contexto vulgar dessas mesmas ações.

Processo em Aula_Momento2

Registo Fotográfico_Momento2

Por fim, o último momento do workshop prendia explorar a evidência de um novo ato distintamente associado ao meio de desenho para qualquer vertente que não a do papel. Com este propósito, salientei o ato de sobrepor algo no nosso desenho, através da colagem de diversas camadas de papel no desenho, por exemplo, ou mesmo até com ao sobrepor da tinta ou das linhas. Assim, desfiz uma mesma folha de desenho e, num canto isolado, procurei espalhá-la naturalmente através de um simples gesto. Posteriormente, procurei então sobrepor e organizar o material disponível (pedaços de papel) no meu suporte (o chão).

Primeiros Processos_Momento3
Últimos Processos_Momento3

Simulei, com isto, uma ação mínima e comum no desenho através da sua ampliação em escala e da inversão dos meios (ser o desenho desmaterializado e desconstruído o meio para efetuar as sobreposições), desviando o termo abordado numa via diferenciada da original.