10.3.20

Transferência-de-Uso || Bruna Vettori



Transferência-de-Uso


Mapa de um sonho qualquer






Há, neste trabalho, o reconhecimento das marcas do desenho numa acção quotidiana. Ao despertar, levanto-me da cama e registro as linhas e dobras feitas pelo movimento do corpo no lençol - um desenho não intencional, mas que é o mapa dos movimentos do corpo enquanto dorme.

A transferência se dá do ato de contornar ou marcar, usando o próprio corpo como meio e a cama como suporte. As linhas e marcas sobre o lençol evidenciam a ação do tempo de um corpo que fez-se presente naquele lugar.

A partir das imagens reflito sobre o potencial do desenho em representar a vida, só percebemos as linhas porque o corpo esteve em movimento.
Sendo o ato de despertar indissociável do ato de dormir, e este por sua vez abriga um universo onírico e também poético, nomeio o registro das linhas do lençol como “Mapa de um sonho qualquer”.
(Transferência de uma ação para os suportes ou processos do desenho)



Impermanência  





Registo o ato de escrever à tinta sobre uma folha em branco. Com um pincel, a mão esquerda começa a escrever a palavra “impermanência”, e a cada letra, a própria mão desliza sobre o escrito, apoiando-se na tinta fresca e borrando as letras recém escritas.

Ao final da ação, a palavra escrita torna-se ilegível, e percebe-se apenas a marca/ o borrão da palavra. Neste exercício, as duas ações se sobrepõe.

(Transferência entre duas ações)



O contorno da sombra, a sombra do contorno 





Percebo o meu reflexo e também a minha própria sombra refletida no vidro da janela. Na tentativa de fixar minha imagem, utilizo uma caneta branca para contornar a sombra sobre o vidro. O vidro neste caso serve de suporte para o ato de desenhar. Após contornar a forma, desloco-me um pouco para o lado e percebo que o próprio desenho também gerou a sua sombra. A ação gera uma multiplicidade de representações da imagem no vidro: há o reflexo, a sombra, o contorno da sombra e a sombra do contorno.

Através do ato de contornar, a ação poderia ser continuada de modo a criar novas réplicas no vidro: eu poderia contornar a sombra em novas posições, ou mesmo contornar a sombra gerada pelo contorno anterior, originando assim, novos desenhos e consequentemente novas sombras, num processo contínuo.

(Redirecionamento o ato do desenho para fora do papel)