9.3.20

Transferência de Uso | Derek Orlandi


O exercício Transferência de Uso tinha como objetivo entender o papel do desenho dentro do campo performativo, estabelecendo relações entre as ações diretas/indiretas com o registro físico. A primeira das quatro etapas desse exercício visava notar a presença do próprio corpo transferindo a ação de olhos vendados para uma folha de papel. Esse registro em particular me deixou muito confortável uma vez que ao anular a percepção do entorno, me encontrava com a atenção fixada no meu corpo, desenhando aquilo que o corpo ia ditando. O resultado foi um registro daquilo que permiti sentir e registrar, uma mescla de percepções que me deixou animado para a próxima fase.


Seguindo na próxima etapa do exercício, foi dada a instrução para escolher a partir de uma lista de ações algum movimento que pudesse ser reproduzido em formato de desenho. Confesso que demorei pra entender a relação entre a ação e o desenho, estava tentando escolher uma ação que geraria um desenho e fiquei muito tempo tentando achar alguma lógica daquilo que estava fazendo. Por fim fiz algo que representasse a ansiedade que estava sentindo por achar que não estava percebendo bem o exercício. Registrei em um ritmo cada vez que sentia meu coração bater pela ansiedade gerando um desenho que imitasse um cardiograma pessoal, e a cada vez que repetia o gesto o papel ia se desgastando, gerando uma marca ao fundo do papel.


A partir das últimas duas etapas do exercício, estive totalmente fora de minha zona de conforto. A performatividade entrou como protagonista no exercício e me senti por muitas vezes incapacitado para realizar as ações. Uma das fases tentava explorar as relações de duas ações que não haveriam possibilidade de ser combinadas num movimento só. Eu escolhi a ação bocejar e sentar com um amigo. Analisando melhor, talvez estivesse um pouco perdido e não sei se essa era a melhor escolha para o exercício, mas eu tentei e o resultado não saiu como esperava. Me senti travado nas ações que havia escolhido e resultou numa performance da ação muito direta.


Na última parte do exercício, a ideia era realizar algum ato performático utilizando-se de ações vindos ao realizar um desenho, entre os verbos: riscar, apagar, rasurar, cortar, rasgar, ocultar, etc. Também houve uma insegurança minha para realizar a simples tarefa, pensando bem, tive ajuda de colegas para estabelecer que gostaria de trabalhar com o verbo alinhar. Com uma fita papel, busquei referências externas como paredes e candeeiros para ir alinhando com a fita em cima da mobília da sala. 

Como conclusão pessoal deste exercício, percebi o quão travado e condicionado estava, tive de sair de minha zona de conforto e pensar um pouco diferente daquilo que estou habitado, tentar ultrapassar minhas inseguranças para poder realizar certas ações “naturais”. Não sei se teria o mesmo resultado se repetisse o exercício mas creio que o resultado disso abriu um pouco minha percepção para entender novos meios de expressão.