Dentro do tema das aulas de “Desenho e Instrução” alguns pontos me chamaram mais a atenção. A “arte-como-instrução” é uma forma de convencer ou convidar alguém a fazer algo. Isso gera uma responsabilidade sobre o autor da instrução, porém, a pessoa que irá executar pode ou não aceitar as instruções, se recusando. Essa possibilidade de que qualquer um pode fazer e/ou recusar as instruções, mostra como é uma arte democrática.
Outro ponto que é relevante para o meu percurso acadêmico é: como as palavras das instruções ativam imagens em nossa memória. Junto delas sensações, cheiros, sabores e sons que vem acompanhados. Me interesso pela experiência sensorial no ato da ação, que nos faz refletir e relembrar sobre outras sensações já vivenciadas. Esse trecho do livro Grapefruit, da Yoko Ono, me fez refletir sobre essa ideia:
“People might say, that we never experience things separately, they are always in fusion. Yes, I agree, but if that is so, it is all the more reason and challenge to create a sensory experience isolated from other sensory experiences, which is something rare in daily life...” (Ono, Yoko. Grapefruit, 1964)
Além disso, gosto de perceber a relação de expectativa e realidade que a “arte-como-instrução” pode (ou não) colocar no autor. Quando o autor propõe uma instrução, pode haver uma projeção sobre como será o resultado daquela ação. Porém, a interpretação de quem está a realizar a ação pode ser diferente do está a ser proposto. Essa convergência da expectativa e do resultado final é muito interessante para mim.
Sendo assim, realizei os exercícios propostos pela Isabel Dores. Minha primeira reação ao ler os exercícios foi de como eu poderia acrescentar minha subjetividade, meus sentimentos no resultado dos exercícios, além de percebe-los como um convite a uma experimentação e não uma imposição rígida.
I – Instrução para a realização de um desenho
II – Instrução para a realização de uma ação
A segunda instrução me fez refletir sobre o momento atual que vivemos de isolamento social. Tentei observar quais objetos eu mais interagia na casa, e por fim cheguei naqueles que se transformaram em uma fuga para mim. Essa fuga é o ato de cozinhar, e os objetos relacionados a esse ato são: a cebola e o limão, o gosto do conforto; a panela, onde eu transformo os sabores; e o vinho, uma fuga para a descontração.
Entretanto, ao equilibrar os objetos com o meu corpo, contra o espelho, eles começaram a cair, gerando um desconforto e uma ansiedade para realizar a ação. Tentava me concentrar observando minha respiração e lembrar dos cheiros quando cozinho, mas não adiantou. Terminei o exercício refletindo como a culinária tem sido importante para mim nesse momento, porém cansada com as frustrações não só do exercício, mas do isolamento social.