30.4.20

Instrução de um desenho e de uma acção - nada disto é arte, apenas instruções para

Instruções por Maria Carolina Sousa
Fechar os olhos e ver cores foi a dicotomia que encontrei ao realizar esta instrução, desenhar de olhos fechados já não é tão poético como os dois primeiros verbos. Não aqueci a mente a olhar para a janela, mas diretamente para o sol, e o movimento da minha cabeça e as vezes que as pálpebras estavam de frente para a luz, as cores mudam. As formas são algo mais cerebral que não carecem tanto da luz do sol.  
Como poderia eu saber que cor estava a usar se tinha os olhos fechados? Mas "(...) fazer o impossível, a modalidade e o humor geral subjetivo"(Sperlinger,2005) então pensei e se escrever as cores que vejo ou organizar os lápis por certa ordem?  
Mas a certo momento troquei tudo e em outros momentos, deixei-me levar pelo desenho e pelos movimentos da minha cabeça. Transformação: "o aspecto político é baseado na imaginação transformada".  Mike Sperlinger em Orders! Conceptual Art's Imperatives refere-se ao ver como a aprendizagem do próprio verbo. Ao ler qual quer uma das instruções de Yoko Ono em Grapefuit consigo imaginar sempre a acção e logo perceber de imediato se ela é possível de fazer. Ou se fica apenas como uma visão, ficando essa aprendizagem.

A instrução que me foi dáda tem mais o carácter de ordem do que imaginativa ou poética, mas também há espaço para imaginar como organizo-me para conceber este desenho.    

      



















Desobedecer: o verbo que me surgiu logo que li a instrução para a acção. Há algum tempo que faço umas pequenas esculturas de papel, primeiramente deposito papel, cola branca e água dentro de um frasco de vidro. E depois de secar durante um dia, parto o frasco. A realização desta pequena escultura e o gif que dela fiz, pode também ser uma instrução. Porque vou fechar minúsculas partículas num frasco só para depois inalar? E se entre as partículas, uma é o parasita COVID-19 ou SARS? 
 "Trabalhos baseados em direções / instruções podem não ser respeitados / obedecidos e diluídos." (Sperlinger,2005)  Repete-se a ideia de instrução e em resposta a ela, passo a agir como o fazedor (craftman) que quer fazer alguma diferença no resultado final. Imaginar, desobedecer e transformar – pequenos mundos transformados, diferentes linguagens. 
Douglas Huebler em 1970 desenhou uma linha vertical e deu-lhe o título: The line above is rotating on its axis at a speed of one revolution each dayCo-existir desta forma na mesma folha é ser o próprio convite para imaginar esta acção.   

Bibliografia: 
SPERLINGERMike; Afterthought – new writing on conceptual art in Orders! Conceptual Arts Imperatives(reeditado) 2005 
LIPPARD, Lucy R. The dematerialization of the art object from 1966 to 1972(reeditado) 2001