DESENHO, INSTRUÇÃO E PERFORMANCE
Instruções por Derek Orlandi executadas por Rui Mota:
1-Instrução para uma ação
À luz da situação de isolamento atual, foi me proposto a construção de um forte de lençóis e almofadas para proteção contra o Covid-19. Foi motor de uma situação entre o conforto e a segurança à semelhança das primeiras impressões de isolamento em casa. A 29 de Abril, quando executei este forte, a relação que tenho com o meu lar e sobretudo com o meu quarto estava completamente alterada em comparação aos tempos pré-isolamento. O espaço, ao qual ligo intimidade e repouso, passou a ser o local de trabalho, que cruza as especificidades de um atelier com uma sala de aula, enquanto procura manter as suas tradicionais funções. Não sei onde acaba o atelier e começa o quarto. De facto, a tão importante divisão física entre o trabalho e repouso, essencial para manter barreiras mentais, deixou de existir. A divisão, cabe agora à autodisciplina. Neste plano, a proposta do Derek é preciosa. Permite voltar a criar divisões. Voltamos à intimidade e ao conforto num espaço dedicado a isso. Posso resumir a intensidade da proposta ao partilhar como, uma vez lá dentro, senti que o forte era a divisão entre o espaço privado e o publico. Esta instrução é uma dádiva.
2-Instrução para um desenho
A segunda instrução proposta pelo Derek, desta vez para um desenho, apresenta-se de forma bastante simples, “Desenhe uma textura de passeio aqui”. O “porquê”, “onde”, “quando”, “como” é tão vago, que fica ao critério de quem executa a instrução. Ainda assim, é difícil não relacionar com o caso Covid-19, uma proposta que me faz ir à rua. Senti necessidade de não me aventurar muito alem dos perímetros do local onde moro e procurei métodos de desenho, rápidos, eficazes e diretamente relacionados com o passeio. A proposta é de facto livre, mas torna-se bastante regrada dependendo de cada caso. No ato de ir à rua desenhar, o pedido do Derek talvez procurasse uma redefinição da relação com o espaço publico. Confesso que, mesmo com a pressão que o exterior impõe, ter algo para fazer num espaço no qual não nos atrevemos a permanecer muito tempo, trouxe boas sensações. Sempre que saio à rua, não é com o intuito de “ir à rua”, mas sim com o objetivo de migrar entre espaços interiores (Casa-Super mercado por exemplo). Se pudesse, sairia diretamente da minha porta para o meu destino, eliminando a viagem, mas, desta vez, fui só a rua.