O quarto e último workshop Performance, Documento e Desenho abordou sobre as tendências da documentação e registro da arte em seu contexto de execução. Há muito debates sobre esse registro de de que maneira isso é considerado parte desse campo artístico. De certa maneira podemos simplificar esse debate e constar de que o registro incorporado depende das intenções do artista e de sua audiência e sua relação com a arte. Há também uma importância de uma documentação no âmbito de meu trabalho com o espaço público. Posso dizer que o objeto de estudo de minha dissertação são as ações que acontecem diariamente que ativam o espaço público. Essas diferentes ações caracterizam o espaço por um momento, geralmente determinado pelo tempo que se leva ao fazer a ação. Para tentar compreender esse espaço, a documentação através de vídeos e fotografia se tornam ferramentas importantes para registrar o que se passou no espaço público em questão. Então para esse exercício o foco de registro são as ações dentro do espaço público que aconteceram na segunda semana de Maio após o fim do estado de emergência no Porto.
A primeira parte do exercício tratou do registro como um documento material, algo que aconteceu e portanto há um registro daquilo. Ao sentar na mureta que divide o calçadão e a praia de matosinhos, fiquei observando por quase uma hora o grau zero das ações desenvolvidas nesse espaço. Após as restrições do COVID-19 serem levantadas, houve um comportamento coletivo de sair de casa e tentar resgatar um sentimento de liberdade ao ocupar os espaços públicos. Obviamente ainda haviam restrições no uso desse espaço, porém muitas pessoas ignoraram as barreiras impostas e naquele momento que estive em observação, a primeira impressão foi de levantar as pessoas que estavam cumprindo as restrições e as que estavam em infringimento as mesmas. A areia da Praia de Matosinhos ainda está com as restrições impostas pelo governo, porém era onde as diversas atividades estavam ocorrendo com a maior variação. Entendendo esse espaço como espaço neutro, as ações que que podem ser abrigadas por essa configuração atraem as diferente pessoas e assim os intitulando como infringentes. Essas ações atraíram minha atenção para entender quais as atividades que estão sendo executadas nesse espaço proibido e assim me deparei com um homem que estava agindo de uma maneira única. Me pareciam exercícios, haviam objetos em sua mão em que um determinado momento ele os jogavam para o alto e assim fazia uma dança coreográfica. Em outro momento ele plantava o objeto no chão e desenhava com os pés um círculo na areia. Tudo muito bem ritmado, como se esses movimentos aleatórios houvessem sentido para todos que estavam ali passando. Fiquei o observando por uns quinze minutos até o rapaz recolher seus objetos e sair correndo por conta do caminhão de desinfetante que estava ali jogando alguma química para limpar as ruas.
A segunda parte do exercício explorou um pouco do registro como um documento teatral, de uma intenção por fazer uma ação para o registrar. Dentro dos mesmos parâmetros da primeira parte, me coloquei numa situação onde encontraria uma série de ações sendo desenvolvidas em um espaço público. Sentei na mureta na Praça dos Poveiros e fiquei em observação para compreender como estavam agindo nos espaços. A partir dessas observações, resolvi registrar através da escrita algumas ações que se destacavam no meio de um conjunto de ações. Vale a pena ressaltar as interatividades que aconteciam entre as pombas e as pessoas, nas diferenças entre o comércio local que abrigava um perfil de pessoas contra a mureta que abrigava outra realidade. Também nos fluxos que aconteciam em relação ao isolamento social, do medo de aproximação das pessoas e do sol que brilhava. Isso tudo foi um registro do meu registro.