Acampei sobre um eucalipto que tinha tombado durante as chuvas moles noturnas no algarve. Depois de cair, a arvore descansava há alguns anos e eu invadi o sono dela com a minha tenda verde. Pela noitinha toco nas texturas do tronco para me guiar. Na entrada da tenda caem pinhas, folhas, sementes e o som de um cuco. Pela manhã mudo-lhe a posição e de cabeça para o chão, os seus limites já não ficam fora do tronco. Assim vejo melhor as texturas e desenho um mapa dos sítios que a Lhasa, a minha cadela cheira por ali perto. No meio de tanta cor e verde caótico procuro perceber se também não invadi o espaço e sono do cuco. Parece que a minha tenda destaca-se pela cor rosa a uns 60m da visão do pássaro.
A frase 10 em Sentences on conceptual art por Sol Lewitt: "Ideas can be works of art; they are in a chain of development that may eventually find some form. All ideas need not be made physical."


Desta forma os meus desenhos e a vegetação que recolhi do espaço, pretendem ensaiar novamente o tempo que investi neste em acampar e denotar, invocar e fazer real a minha invasão neste espaço. “A desaparição do objeto surge então como fundamental da performance; ela ensaia e repete a
desaparição do sujeito que espera sempre ser lembrado.” Simplesmente gostava de ser relembrada como a pessoa que acampou de cabeça para baixo entre uma àrvore de eucalipto e o chão.
Bibliografia:
Sol Lewitt, “Sentences on Conceptual Art” (1969), reprinted in Sol Lewitt, Museum of Modern Art, New York, 1978 in American Artists on Art from 1940 to 1980, edited by Ellen H. Johnson, 1982
PHELAN, Peggy in A ontologia da Performance, 1993